Foi diante de um Araújo Vianna lotado que, às 20h20min deste domingo (14) de Dia das Mães, a banda regida pelo maestro Eduardo Lages começou a entoar os primeiros acordes de Como É Grande o Meu Amor Por Você. Era um anúncio de quem estava por subir ao palco em poucos minutos: Roberto Carlos.
A banda tocou ainda um pot-pourri de sucessos do ex-Jovem Guarda até que, às 20h25min, Roberto Carlos surgiu no palco. De terno azul e camisa e sapatos brancos, o Rei foi recebido sob aplausos e apaixonados gritos de "Eu te amo". Suspirou no microfone, como se igualmente apaixonado pelos fãs, e interagiu pela primeira vez com o público.
— Quero dizer uma coisa para vocês. Simples, mas importante — disse, emendando os versos iniciais de Emoções ("Quando eu estou aqui / Eu vivo esse momento lindo...").
Showman que é, o cantor esboçou alguns passos de dança já na primeira música. Foi o suficiente para levar à loucura os fãs de Porto Alegre, que levantaram das cadeiras mais uma vez para aplaudi-lo.
Depois de mostrar que, aos 82 anos recém completados, ainda é pé de valsa, Roberto Carlos conversou novamente com a plateia, agradecendo a presença de todos e confessando:
— Poderia dizer várias coisas, mas meu negócio é cantar.
E seguiu o espetáculo com a canção Como Vai Você.
Com Além do Horizonte, o Rei abriu a sessão de clássicos da Jovem Guarda, movimento musical que agitou o país em meados de 1960. Foi neste período que todos conheceram a versão rebelde dele, representada por canções como Ilegal, Imoral ou Engorda, a escolhida para dar seguimento ao show. O público voltou aos anos 1960 e, batendo palmas, acompanhou o cômico refrão: "Paro pra pensar, mas eu não posso mudar / Que culpa tenho eu? Me diga, amigo meu / Será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?".
A seriedade voltou a reinar na canção seguinte, Detalhes, interpretada por um Roberto Carlos já sentado. A música de amor arrancou lágrimas de alguns fãs na plateia baixa, servindo como uma amostra do que viria a seguir: um bloco das mais românticas de Roberto Carlos. Antes de iniciar a canção seguinte, o Rei avisou:
— O verdadeiro amor resiste sempre!
Convicto, emendou a apaixonada Outra Vez ("Você foi o maior dos meus casos / De todos os abraços / O que eu nunca esqueci..."). Prestes a seguir com Olha, parceria de Erasmo Carlos com Chico Buarque, Roberto Carlos afirmou que desejava dedicar a música a alguém especial. E foi assim que centenas de braços se levantaram no Araújo Vianna — quem não quer ser alguém especial para o Rei, afinal? A maior parte do público presente no show deste domingo queria. A prova veio nos gritos de "Eu vou" ouvidos pelo auditório quando a música chegou ao refrão, que diz: "Olha, vem comigo aonde eu for / Seja minha amante e meu amor / Vem seguir comigo o meu caminho / E viver a vida só de amor".
Com Nossa Senhora, Roberto Carlos conquistou cerca de 3 mil backing vocals — a plateia inteira cantou. Mas foi quando um som de buzina foi ouvido no auditório, avisando que o calhambeque de Roberto Carlos estava por chegar, que o público usou mesmo toda sua potência vocal. O Rei aproveitou a comoção para dar uma pausa, voltando ao palco poucos minutos depois. E já emendando os versos "Mandei meu Cadillac pro mecânico outro dia / Pois há muito tempo um conserto ele pedia...".
A música agitou os fãs e Roberto Carlos, percebendo que o show estava em seu ápice, aproveitou para brincar que estava indo embora. Não estava. Afinal, nem o Rei ousaria encerrar o show deste domingo sem cantar Lady Laura, música que ele fez para a sua mãe.
— Canto essa canção em todos os shows, mas hoje é um dia especial, Dia das Mães. Quero dedicar essa música a todas as mães presentes, a todas as mães do mundo, e à minha, que está lá no céu — disse ele.
Após Lady Laura, Roberto Carlos puxou Evidências, de Chitãozinho & Xororó, interpretada por ele em ritmo mais lento, bem ao estilo balada romântica. O público entrou tanto no clima que, do lado esquerdo da plateia baixa, uma voz gritou:
— Casa com a minha mãe, Robertooooo!
O Rei não respondeu, mas até parece ter escutado o pedido inusitado: escolheu a música Esse Cara Sou Eu para dar continuidade à apresentação. Humilde, brincou que o "cara" da canção não é ele, mas disse tentar ser ao menos parecido com o personagem. E ouviu mais declarações vindas da plateia.
— Tu é o cara sim, Roberto Carlos! — alguém corrigiu.
Em Amigo, o Rei aproveitou para homenagear o Tremendão, que faleceu no ano passado. "Não preciso nem dizer / Tudo isso que eu lhe digo / Mas é muito bom saber / Que Erasmo é meu amigo", cantou ele, adaptando a letra enquanto apontava para o céu. A homenagem seguiu em Como É Grande o Meu Amor Por Você, canção com a qual o Rei expressou seu amor também pelos fãs de Porto Alegre.
A música derradeira foi Jesus Cristo. Tão logo os acordes da canção começaram a tocar, o público deixou as poltronas e correu para a frente do palco — literalmente correu. Não dava para esperar, havia chegado o momento mais aguardado do show: a entrega das rosas.
Roberto Carlos começou a distribuir as flores por volta das 21h50min. Sem pressa, beijou algumas antes de atirar à plateia. E a despedida silenciosa veio cerca de 10 minutos depois, também com um beijo atirado aos fãs, às 22h, quando Roberto Carlos deixou o palco do Auditório Araújo Vianna. Foi uma noite de emoções.