Janeiro foi um mês de cães danados para Beto Bruno. Depois de 20 anos de rock'n'roll, a matilha da Cachorro Grande se dissolveu. Como um lobo solitário, o vocalista foi lamber suas feridas longe de todos.
– Decidimos acabar com a banda no final de dezembro. Meu início de ano foi horroroso. Beijei a lona. Todo mundo viajou para as praias, minha mulher viajou a trabalho. Fiquei uns 15 dias sem ver ninguém, numa tristeza absoluta. Parece clichê, mas recorri ao bom e velho violão, que estava encostado há muito tempo, e de repente comecei a compor – lembra Bruno.
Os dias uivando sobre o instrumento resultaram em 10 novas músicas, que agora o cantor apresenta em Depois do Fim, seu primeiro álbum solo. Os arranjos, que remetem ao rock distorcido e psicodélico dos anos 1960 e 70, não deixam dúvida de que o novo rumo da carreira de Beto Bruno é, na verdade, a continuação do que já vinha executando na Cachorro.
– Uma das minha maiores influências ainda é a Cachorro Grande. Era eu quem estava lá produzindo, compondo, gravando. A única coisa que mudou agora é que estou fazendo sozinho. Adoraria dizer que não é uma continuação, que agora estou em outro caminho, igual todo mundo gosta de falar quando termina uma banda. Mas é esse caminho que trilho desde que comecei minha vida como músico e não vou sair dele – diz Bruno.
Liberdade
O cantor ressalta a importância da ex-banda para o novo trabalho, mas também comemora a coleira frouxa da carreira solo – agora se sente livre para escrever letras mais pessoais.
A faixa-título, por exemplo, trata de fins e recomeços, tendo como inspiração a dissolução do grupo: "Meu bem, só diga pra mim/ se além e depois do fim/ existe um lugar para renascer/ para despertar a minha voz", diz a letra, composta em parceria com os líderes da banda Dois Reis, Theo e Sebastião, filhos de Nando Reis.
– Vejo o fim, nesse caso, como uma coisa boa, um recomeço. Nunca soei tão verdadeiro e nunca falei de mim tão abertamente, até porque eu não tinha esse espaço na Cachorro Grande. Mesmo sendo o líder, o cantor, respeitava o espaço de todo mundo. Sempre cuidei para não fazer coisa muito pessoal quando estava falando pelos cinco integrantes – avalia.
A imagem da capa é uma foto da artista visual Denise Gadelha, esposa de Beto Bruno, em que pássaros descansam sobre um barco abandonado.
– Quando vi essa foto, falei:
“Bicho, essa é a capa do meu disco. O meu disco é isso. É assim que eu me sinto agora, um barco parado, que precisa se movimentar logo” – lembra o vocalista.
Para as gravações e os novos shows, Beto Bruno formou uma banda com o pianista Pedro Pelotas (ex-parceiro de Cachorro Grande), os guitarristas Gustavo X e Henrique Cabreira (Doris Encrenqueira), o violonista Sebastião Reis (Dois Reis) e o baterista Eduardo Schuler (Doris Encrenqueira).
Também há participações especiais de Martin Mendonça, Duda Machado (ambos da banda de Pitty), Rodolfo Krieger (ex-Cachorro Grande) e Théo Reis (Dois Reis). A produção ficou por conta de Rodrigo Tavares (ex-Fresno e Esteban), que também gravou os baixos da maior parte das canções. O show do disco estreou em Belo Horizonte, no início do mês.
No dia 6 de dezembro, no bar Opinião, Beto Bruno deve realizar sua primeira apresentação em carreira solo na Capital. Para o músico, será a oportunidade ideal de registrar em vídeo a performance ao vivo com a banda de apoio que acabou de formar, para lançar mais tarde em DVD.
– Estou muito feliz com esse show, e quero gravar aí em Porto Alegre meu primeiro DVD – diz, de São Paulo, por telefone. – Aquele barco da capa do disco está navegando e já tem até wi-fi. Para o DVD, vou fazer uma capa com a banda em cima de um iate – brinca ele.
DEPOIS DO FIM
De Beto Bruno
10 faixas, 180 Selo Fonográfico, R$ 26 (CD) ou R$ 110 (vinil). Também disponíveis nas plataformas de streaming.