Madonna tinha 30 anos quando lançou um de seus trabalhos de maior repercussão musical e midiática. No dia 21 de março de 1989, o disco Like a Prayer entrou em cena provocando o catolicismo e o racismo e questionando o papel da mulher e a hipocrisia de uma sociedade conservadora que fazia vista grossa para uma série de abusos cotidianos. Tudo isso embalado por um renovação sonora que misturou gêneros, fez ferver as pistas de dança e ampliou o alcance da música pop para discussões políticas, religiosas e comportamentais. O incendiário disco que comemora 30 anos de sucesso nesta quinta-feira (21) cravou o nome da cantora como ícone da cultura pop.
Madonna entregou aos fãs um pacote completo. Like a Prayer deu origem à não menos badalada e polêmica turnê Blonde Ambition, que, por sua vez, foi registrada no igualmente explosivo documentário Na Cama com Madonna (1991).
Exibido incessantemente na MTV, o clipe de Like a Prayer, faixa que abre o álbum, provocou escândalo, posteriormente ampliado quando a Pepsi utilizou a canção e Madonna em uma propaganda. Alternando imagens com referências erótica e religiosa dentro de uma igreja, a cantora contracena com um santo negro, a quem, simbolicamente, liberta de um nicho atrás de grades.
Cruzes queimando e um rapaz negro injustamente perseguido pela polícia evocam o grupo supremacista Ku Klux Klan e o racismo entranhado na sociedade americana. Musicalmente, a faixa combina batida dançante com música gospel. O Vaticano protestou e movimentos religiosos ameaçaram boicotar a Pepsi, que desistiu de sua campanha publicitária com a cantora.
Em Express Yourself, Madonna segue provocativa: incentiva as mulheres a exigirem demonstrações de afeto mais sólidas do que presentes caros. "Don't go for second best, baby (Não aceite o segundo lugar, baby)", virou slogan de garotas que desejavam ampliar seus direitos. Alguns interpretaram como queixas ao ator Sean Penn, seu ex-marido — na faixa Till Death Do Us Part, ela fala sobre agressão física. "He starts to scream, the vases fly (Basta ele começar a gritar para os vasos voarem)".
Em Cherish, mostra que uma cantora pop pode fazer uma balada romântica sem parecer ingênua. "Cansada de corações partidos/ E de perder neste jogo/ Antes de começar esta dança/ Arrisco uma chance de dizer/ Eu quero mais do que um simples romance".
Também revê seu conturbado passado familiar.. Em Oh Father, dirigida a seu pai, ela canta: "Maybe someday/ When I look back I’ll be able to say/ You didn’t mean to be cruel/ Somebody hurt you too" (Talvez algum dia/ Quando eu olhar para trás, estarei pronta para dizer/ Que você não quis ser cruel/ Alguém machucou você também)". No clipe, uma garota perde a mãe precocemente e vira alvo de agressões do pai.
A capa do álbum era um exemplo de como Madonna era boa de marketing e criação de tendência. Em vez de um close em seu rosto, o foco da imagem era seu tronco, com a barriga exposta em meio a colares com pedras e uma calça jeans desabotoada, simbolizando o jeito de se vestir de uma mulher livre e moderna.
Se os mais reacionários às mudanças comportamentais acharam tudo muito exagerado, os críticos, por outro lado, adoraram. Uma resenha publicada na Rolling Stone considerou que Like a Prayer era "o mais perto que a música pop pode chegar da arte".
Para celebrar a data, chegou à plataforma digital de música Spotify uma edição especial de Like a Prayer, que tem como destaques versões remixadas dos hits para os fãs comemorarem dançando sem parar.