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O clipe da música Apeshit, lançado no último sábado, pode ser visto como uma espécie de visita-guiada pelo Museu do Louvre, cortesia de Beyoncé e Jay-Z. A faixa faz parte do álbum Everything is Love, lançado pelo casal, que assina como "The Carters". Ao longo dos seis minutos do clipe, os cantores interagem com obras-primas célebres fazendo um manifesto contra o racismo na história da arte. Confira algumas delas:
1 - Monalisa (1503), Leonardo da Vinci
O sorriso misterioso da Monalisa pertence à Lisa Gherardini, esposa do comerciante Francesco del Giocondo. Pintado por Da Vinci durante a Renascença, o quadro é a grande atração do Louvre e normalmente é impossível vê-lo sem uma multidão de turistas diante dele. Ao ficar a sós e se posicionar na frente de uma obras obras de arte mais famosas do mundo, o casal reivindica um lugar para eles mesmos e para a cultura negra na história da arte – predominantemente branca, machista e eurocêntrica, a exemplo do próprio Da Vinci (homem, branco e europeu).
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2 - A Coroação de Napoleão (1807), Jacques-Louis David
Beyoncé dança na frente deste quadro acompanhada por oito bailarinas. A pintura feita pelo artista oficial da corte de Napoleão I, Jacques-Louis David, é enorme: tem cerca de 10 metros de largura e 6 de altura. Encomendada pelo próprio imperador, retrata ele coroando a sua mulher, Josefina, na Catedral de Notre-Dame, em Paris. Beyoncé dança logo embaixo da imperatriz, com uma atitude ainda mais empoderada do que a da monarca.
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3 - Vitória de Samotrácia (aprox. 200 a.C.), artista desconhecido
Uma das locações mais bonitas do clipe é a escadaria em frente à Vitória de Samotrácia, escultura de mármore mostra Nike, a deusa grega da vitória. Beyoncé veste um vestido que faz referência direta ao traje da estátua enquanto a cantora canta "possuo tecidos caros". Na escada, os corpos negros que fazem coreografias deitados contrastam com o cenário todo branco da sala. A Vitória de Samotrácia fazia parte de um conjunto escultórico maior: ficava na proa de um navio de mármore, em uma fonte, na ilha de Samotrácia, na Grécia.
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4 - A Grande Esfinge de Tânis (aprox. 2600 a.C.), artista desconhecido
Com quase cinco metros de comprimento, é uma das maiores esfinges em exibição fora do Egito e a maior do Louvre. A obra foi retirada das ruínas do templo de Amon Rá, em Tânis, em 1825. Com o corpo de leão e a cabeça de um rei, traz as inscrições de vários faraós. Como uma das únicas peças de origem africana no clipe, a estátua faz um contraponto às obras europeias.
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5 - Vênus de Milo (pode ser uma réplica de 100 a.C. ou original de 400 a.C.), artista desconhecido
A famosa figura feminina foi encontrada em 1820 na ilha grega de Milo e, apesar de seus braços nunca terem sido recuperados, é considerada um símbolo de beleza – uma beleza branca e europeia, que Beyoncé questiona ao acentuar as próprias curvas. Os especialistas não sabem ao certo se a estátua representa Afrodite, a deusa grega do amor e da beleza, ou Anfitrite, deusa do mar e esposa de Poseidon. As comparações de Beyoncé com Afrodite já tinham sido feitas na famosa fotografia da cantora anunciando sua gravidez.
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6 - A Balsa da Medusa (1819), de Théodore Géricault
Ícone do Romantismo, esse quadro foi inspirado no naufrágio da fragata francesa Medusa na costa do Senegal, em 1816. A tela mostra o momento em que os sobreviventes, que estavam à deriva no oceano, avistam um barco no horizonte. Na época, o quadro foi considerado anti-imperialista e, no centro da composição, mostra um homem negro. A obra já ganhou releituras contemporâneas, como a de Adad Hannah, que a usa para falar da crise dos refugiados.
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8 - Retrato de Mulher Negra (1800), de Marie-Guillemine Benoist
A tela foi pintada em um breve intervalo de liberdade para os escravos das colônias francesas: um decreto aboliu a escravidão em 1794, mas Napoleão a trouxe de volta em 1802. Possui a particularidade de ter sido realizada por uma artista mulher, aluna de Jacques-Louis David. Para alguns, a mulher é retratada com a expressão de dignidade de quem ganhou a sua liberdade, para outros, parece subjugada e objetificada por estar com um dos seios à mostra (embora o clipe não mostre a figura completa, apenas dos ombros para cima).