
O premiado compositor e letrista William Finn morreu na segunda-feira (7), em Bennington, Vermont, nos Estados Unidos, aos 73 anos.
A causa da morte foi fibrose pulmonar, segundo informou seu parceiro de longa data, Arthur Salvadore, ao The New York Times. Conhecido por obras marcantes como Falsettos, A New Brain e The 25th Annual Putnam County Spelling Bee, o compositor também enfrentava há anos problemas neurológicos.
Finn se destacou por levar ao palco temas até então raramente abordados nos musicais, como homossexualidade, doenças graves e a epidemia de AIDS, sempre com humanidade e afeto, de acordo com o Music Theatre International (MTI), uma empresa de licenciamento teatral com atuação global.
Nascido em 28 de fevereiro de 1952, em Boston, William Alan Finn cresceu em Massachusetts. Ainda na sua infância, o artista se apaixonou pelo teatro.
— Os incríveis talentos de Finn incluíam a capacidade de observar atentamente as peculiaridades e complexidades da condição humana e zombar delas, ao mesmo tempo em que as abraçava — comentou o presidente e CEO da MTI, Drew Cohen.
Trajetória
Finn iniciou sua carreira com uma trilogia de musicais centrados em Marvin, um homem que deixa a esposa por outro homem e passa a lidar com sua sexualidade e os laços familiares: In Trousers (1979), March of the Falsettos (1981) e Falsettoland (1990).
A história, ambientada no início da epidemia de AIDS, foi um dos primeiros musicais a tratar o tema de forma íntima e comovente, retratando laços familiares, perda e amor em tempos de incerteza.
Os dois últimos foram posteriormente reunidos em Falsettos, que estreou na Broadway em 1992 e venceu dois prêmios Tony, o "Oscar dos musicais", por melhor trilha sonora e melhor libreto. A obra foi remontada em 2016 e continua sendo encenada em novas produções.
Um novo cérebro
Nos anos 1990, após ser diagnosticado com uma malformação arteriovenosa no tronco cerebral, Finn passou por uma cirurgia cerebral conhecida como Gamma Knife. A experiência deu origem a A New Brain (1998), musical autobiográfico criado novamente com Lapine e encenado no Lincoln Center Theater.
Segundo o The New York Times, A New Brain é um exemplo marcante da maneira como William Finn transformava experiências pessoais desafiadoras — como a cirurgia cerebral a que foi submetido — em obras artísticas sensíveis e comoventes, revelando sua resiliência criativa e sua capacidade de encontrar beleza mesmo nas adversidades.
Outro grande sucesso foi The 25th Annual Putnam County Spelling Bee, que estreou na Broadway em 2005 após ser desenvolvido no Laboratório de Teatro Musical da Barrington Stage Company, fundado pelo próprio Finn em 2006. A produção, que retrata com humor e ternura um grupo de adolescentes em um concurso de soletração, rendeu a Finn uma nova geração de fãs.
Segundo Drew Cohen, presidente da Music Theatre International, o espetáculo foi montado mais de 7 mil vezes ao redor do mundo:
— Em suas letras vibrantes, Finn capturava vividamente as vozes de seus jovens personagens.
Com Lapine, Finn também adaptou para os palcos o filme Little Miss Sunshine, que estreou em 2011 e teve produção Off-Broadway em 2013.
Últimos anos
De 1999 a 2019, foi professor assistente adjunto no programa de pós-graduação em escrita de teatro musical da Universidade de Nova York (NYU), inspirando novas gerações de compositores.
Mesmo com a saúde debilitada, continuava compondo — seu projeto mais recente era Once Every Hundred Years, um ciclo de canções sobre a pandemia.
Para Drew Cohen, da MTI, “Finn possuía o raro talento de observar com exatidão as complexidades humanas e rir delas, ao mesmo tempo em que as abraçava. Suas canções — fossem baladas, números cômicos ou solilóquios — emocionavam e arrancavam risos com a mesma intensidade”.
— Era um mestre das palavras e escrevia canções complexas sobre temas até então ausentes do teatro musical. Mas o que o tornava especial era seu coração imenso. Seus shows tocavam o público porque seu talento era belo, acessível e emocionante — disse ao jornal The New York Times, André Bishop, diretor artístico do Lincoln Center Theater, que produziu sete de suas peças.
Além de Arthur Salvadore, seu companheiro por 45 anos, Finn deixa uma irmã, Nancy Davis; um irmão, Michael; sobrinhos, sobrinhas, sobrinhos-netos e sobrinhas-netas.
* Produção: Camila Mendes