Em 16 de agosto de 1977, Elvis Presley foi encontrado inconsciente em sua mansão de Memphis, no estado do Tennessee. Sua morte foi constatada no hospital, fulminado por um ataque cardíaco aos 42 anos.
Os boatos mencionavam uma overdose, e um de seus seguranças descreveu um Elvis "drogado e paranoico", em uma entrevista gravada poucas horas antes de sua morte.
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Desmaios
Em 17 de agosto, milhares de pessoas se concentraram ao redor da mansão Graceland, a residência do astro, para prestar uma homenagem e dar o último adeus ao lendário cantor. Na Elvis Presley Boulevard lotada, a mistura de emoção, calor sufocante e multidão provocou dezenas de desmaios e a intervenção de ambulâncias.
Os fãs anônimos foram autorizados a se inclinar diante do caixão de cobre do rei do rock. Muitos choraram ao depositar rosas vermelhas diante de Elvis Presley.
Em Washington, a Casa Branca recebeu centenas de ligações que exigiam um dia de luto nacional.
"Nenhuma morte, desde a do ex-presidente John Fitzgerald Kennedy (14 anos antes), havia comovido tanto o povo americano", escreveu um casal de californianos em um telegrama dirigido ao presidente Jimmy Carter.
O presidente prestou homenagem ao cantor "único e insubstituível", símbolo da "vitalidade, do espírito de rebelião e do bom humor" dos Estados Unidos.
Lojas de música invadidas
Em todo os Estados, as lojas de discos foram invadidas. "Em Charleston, duas mulheres quase chegaram às vias de fato para adquirir o último exemplar de Moody Blue, o último disco de Elvis", relatou a AFP na época.
Em apenas um dia foram vendidos 250 mil exemplares do álbum. As unidades de produção de discos trabalharam dia e noite para alimentar a voracidade de admiradores, para os quais o rei havia vendido em sua vida mais de 500 milhões de exemplares.
Na madrugada de 17 para 18 de agosto, todos os hotéis de Memphis estavam lotados, e 200 fãs inconsoláveis permaneceram diante da mansão. Dois deles foram atropelados por um motorista embriagado.
John Wayne e Burt Reynolds
Durante a madrugada, entre 3 e 5 mil fãs se reuniram diante da residência, alguns usando camisetas com a imagem do ídolo.
Os jornalistas presentes foram mantidos a uma determinada distância por agentes de segurança vestidos de maneira chamativa, com muitas joias, fiéis ao estilo do ídolo.
O funeral começou com um culto batista para um grupo reduzido de convidados na Graceland Mansion. A multidão teve de se conformar com a passagem do cortejo do carro fúnebre, seguido por 15 Cadillac brancos, a cor favorita do artista.
O corpo de Elvis Presley percorreu a avenida que leva seu nome até o cemitério de Forest Hills, alguns quilômetros ao norte. O caixão foi sepultado no mausoléu da família, diante de 50 pessoas, incluindo parentes e poucos amigos íntimos. Entre eles alguns famosos, como os atores John Wayne e Burt Reynolds.
Lenda de Elvis perdura 40 anos após sua morte
Elvis é idealizado mais do que nunca no 40º aniversário de sua trágica morte. Estima-se que nesta data mais de 50 mil pessoas comparecerão a Graceland, sua mansão.
Com mais de um bilhão de discos comercializados no mundo, Elvis é considerado o artista mais vendido de todos os tempos. Em 2016, a revista Forbes o classificou no quarto lugar na lista das celebridades falecidas com maior receita, com US$ 27 milhões.
– É a única pessoa dos tempos modernos que é reconhecida imediatamente pelo primeiro nome no mundo todo – afirmou o autor britânico Ted Harrison, que escreveu dois livros sobre Presley. – Você diz "Elvis" em Pequim, Nicarágua, Estônia ou Fiji e todo mundo sabe de quem você está falando, além de todos os idiomas e culturas – completou.
Sua voz e estilo únicos combinaram R&B, blues, country, gospel e música negra, desafiando as barreiras sociais e raciais do seu tempo, e seu característico movimento de quadris ao dançar o fez merecedor do apelido "Elvis, a Pélvis".
– Ouvi-lo pela primeira vez foi como sair de uma prisão – declarou Bob Dylan.
No final dos anos 1960, o compositor e diretor Leonard Bernstein o qualificou de "a maior força cultural do século XX".
Famoso entre os famosos
Sucessos como Heartbreak Hotel, Hound Dog, Jailhouse Rock e Are You Lonesome Tonight são reconhecidos imediatamente. Sua música foi reeditada e relançada inúmeras vezes desde a sua morte.
Mais de 20 milhões de pessoas visitaram Graceland, seu lar durante duas décadas, desde que Priscilla, sua ex-esposa e mãe da sua única filha, Lisa-Marie, a abriu ao público em 1982.
Cerca de 600 mil visitantes vão ao local todos os anos, gerando cerca de US$ 150 milhões adicionais à economia de Memphis. E não há sinais de declínio: em março foi inaugurado um novo complexo de entretenimento e um hotel em um prédio de 16 hectares, cujo investimento chegou a US$ 45 milhões.
Os fãs com frequência se emocionam até as lágrimas diante do seu túmulo em Graceland – onde está enterrado junto com seus pais, Gladys e Vernon, e sua avó Minnie-Mae –, que cobrem de flores e lembranças.
– Sua música transcende nossa geração porque não há nada como Hound Dog – disse Stephanie Harris, 42, uma vendedora de seguros de Michigan.
No centro de Memphis, lar do blues, pode-se comprar quase tudo com figuras de Elvis, desde uma árvore de natal até malas. Nos bares, Elvis de papelão te recebem do lado de fora, e caixas de som ressoam sua música.
– Ele é o famoso entre os famosos – apontou Lisa Bseiso, de 36 anos, que fundou o Fã Clube oficial de Elvis Presley do Catar, onde nasceu e cresceu. – Quarenta anos depois da sua morte, continua sendo tão amado quanto antes. Por isso é um fenômeno – acrescentou Bseiso, em Memphis para o aniversário da morte do cantor.
Música negra
Filho de um caminhoneiro e uma operária têxtil, Elvis nasceu em 8 de janeiro de 1935 e cresceu em uma casa de dois quartos em Tupelo, Mississippi. Em 1948, se mudou para Memphis com seus pais e se formou no segundo grau. Gravou seu primeiro disco aos 19 anos e quase instantaneamente se transformou em uma estrela.
Os conservadores ficaram atentos à rebeldia de Elvis e à sua dança insinuante com movimentos de quadris e pernas. Ele cruzou a linha racial em um momento em que o fantasma da segregação ainda pairava sobre o sul dos Estados Unidos.
– Mais preocupante para muitos brancos foi a forma como ele se apropriou da música afro-americana e a apresentou como dominante – afirma o autor Ted Harrison.
Depois, Elvis passou uma temporada de dois anos no exército americano durante a Guerra Fria, pelo qual foi enviado à Alemanha Ocidental e promovido a sargento. Após pendurar o uniforme, se tornou um artista de família e respeitável.
E assim como encarnou o "american dream" – um menino humilde que acabou comprando Cadillacs para estranhos na rua por capricho –, simbolizou também a decadência dos Estados Unidos. No final da sua carreira, obeso e viciado em medicamentos, viveu totalmente recluso, à sombra do que tinha chegado a ser em outra época.
Seu último show foi em 25 de junho de 1977 em Indianápolis. Em 16 de agosto, foi encontrado morto no banheiro da sua casa.
* AFP