O livro mais recente do gaúcho Lourenço Cazarré oferece, no meio de sua estrutura caleidoscópica, uma chave para sua própria leitura. A determinada altura, o personagem-título de Kzar Alexander, o Louco de Pelotas escreve em uma de suas copiosas anotações: "Pela junção de muitas histórias curtas ergueremos um complexo edifício narrativo, que, como as cintilantes facetas de um globo, replicará tudo o que há nesta terra, Mundo Cão".
Kzar Alexander, o Louco de Pelotas, publicado por vencer o concurso literário da Biblioteca Pública do Paraná no ano passado, é, mais do que um romance, um ambicioso aglomerado de episódios unidos por um tênue fio condutor. Um escritor internado em uma ala psiquiátrica recebe a visita de um policial que investiga um caso sobre o qual pouco se sabe a princípio.
Por recomendação do médico, o escritor, César, se dedicou a compor um alentado manuscrito que inclui sua autobiografia disfarçada como o Kzar Alexander do título, um escritor delirante e caricato que apresenta comentários sobre literatura, análises de contos clássicos, tiradas machistas de gosto ultrapassado e histórias avulsas compostas por ele mesmo. A leitura dessa papelada é entremeada por diálogos agudos nos quais o perplexo policial tenta, sem sucesso, obter um sentido do autor, o escritor internado.
Numa obra comum, tal falta de coesão seria um pecado. Numa narrativa com esta proposta, a explosão da forma romanesca em pedaços e o que autor faz disso são o verdadeiro atrativo.
Kzar Alexander, o Louco de Pelotas
De Lourenço Cazarré
Romance. Biblioteca Pública do Paraná, 344 páginas.