O ator Victor Rosa recordou, em entrevista ao portal g1, o momento em que retirou o dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa do incêndio que atingiu o seu apartamento na madrugada da terça-feira (4). O fundador do Teatro Oficina chegou a ser internado, mas não resistiu aos ferimentos e morreu na quinta-feira (7), aos 86 anos.
Victor morava no apartamento de Zé Celso desde 2021 e atuava em peças do Teatro Oficina. Ele relata ter passado a segunda-feira (3) no teatro, retornando apenas na madrugada do dia seguinte, quando o artista já se preparava para dormir. O viúvo do dramaturgo, Marcelo Drummond, e o ator Ricardo Bittencourt estavam em outros cômodos, descansando.
— Quando eu cheguei, o Zé estava no quarto com a porta entreaberta, mas já se preparando para dormir. Acho que nem dei boa noite, porque ele já estava quase deitado e fui dormir. Tava muito cansado — contou ele. — Acordei já com o Zé gritando por socorro.
Zé sentia frio naquela noite e tinha o hábito de colocar o aquecedor perto da cama, segundo o ator. A suspeita é que o aparelho tenha causado as chamas — segundo o Instituto de Criminalística, não foi possível identificar a causa do incêndio, mas análises apontam que o aquecedor poderia ter entrado em contato com tecido, espuma ou madeira, iniciando o fogo.
Nas primeiras horas da manhã, ao ouvir os pedidos de socorro, Victor correu para o quarto de Zé Celso. Já havia grande quantidade de fumaça e o dramaturgo, machucado, tentava deixar o quarto.
— Eu não enxergava nada, só a silhueta na fumaça, tentando sair (do cômodo) com andador. Chamei os meninos que dormiam nos outros quartos e tentei com cuidado puxar o Zé para sala. Não sei como eu queimei as minhas mãos, se foi nele ou se toquei em algo.
Ele continuou:
— (Zé Celso) Estava consciente todo o momento e com queimaduras pelo corpo. Tirou o andador e a gente foi pro chão. Nessa hora, Marcelo também chegou, começou a abrir as janelas, abrir porta, abrir tudo. Comecei arrastar Zé pelo chão. Estava pesado e estava difícil, porque eu estava com as mãos queimadas, doendo. Queria levar (ele) para longe do fogo.
Um vizinho conseguiu ajudar a retirar Zé e todos ficaram no hall. Victor voltou ao apartamento ao menos outras duas vezes para tentar salvar Nagô, o cachorro de estimação de Zé Celso. O pet apareceu mais tarde, sem ferimentos, no corredor do prédio.
Com a chegada dos bombeiros, o dramaturgo foi levado ao hospital em estado grave. Ele teve queimaduras nos membros superiores, inferiores e no rosto e precisou ser sedado e entubado na instituição médica.
— Eu até caí na rua, assim que fiquei chorando, muito preocupado com Nagô. Abaixou minimamente a adrenalina e eu comecei a sentir minhas mãos. Ficamos nós três numa ambulância recebendo oxigênio.
Agora, Ricardo, Marcelo e Victor estão em um hotel no mesmo bairro e não retornaram ao apartamento, que passou por perícia e análises estruturais. Em nota, a prefeitura informou que a análise técnica da Defesa Civil não encontrou danos na estrutura do edifício.
Os cômodos atingidos pelo incêndio tiveram partes das paredes se soltas. O quarto ficou praticamente todo destruído e um ventilador no teto derreteu, conforme o g1.