
Estreado há 18 anos, o espetáculo Das Tripas Sentimento misturava dança, circo e teatro para coreografar 19 canções do repertório de Elis Regina. Concebida por June Machado, Lourdes Dall’Onder e Lya Fróes, a montagem teve mais de 5 mil espectadores, ganhou seis prêmios Açorianos de Dança e levou dois números para a abertura da festa de inauguração do Anfiteatro Pôr do Sol naquele ano 2000.
A nova versão de Das Tripas Sentimento, que June estreia nesta quinta (20), para convidados, na Casa Cultural Tony Petzhold (Av. Cristóvão Colombo, 400) – o mesmo espaço da primeira vez –, substitui as cores da montagem original pelo preto.
Também o repertório sofreu modificações para dialogar com nosso tempo. Saíram canções de amor e entraram músicas que falam da realidade social, mas não apenas disso. Entre elas: Romaria, Cartomante, Deus lhe Pague, Alô Alô Marciano e Como Nossos Pais.
É June quem resume:
– Agora é uma cena mais política. Antes, tínhamos Aquarela do Brasil; agora temos Querelas do Brasil. É um contexto mais atual do panorama social que vivemos. Não tinha como fazer um espetáculo igual ao anterior. Era tudo lindo, poético. Como eu poderia manter isso nos dias de hoje?
As sessões abertas ao público serão de sextas a domingos, às 20h, até dia 30 de setembro, com ingressos a R$ 60.
Coreografias foram recriadas
Três bailarinos da primeira versão retornam ao elenco: Diego Mac, Thais Petzhold e Dani Boff. Mac, que é filho de June, tinha apenas 18 anos na época, e hoje dirige a Macarenando Dance Concept, companhia que é uma das realizadoras do trabalho, ao lado da Casa Cultural. Já Thais é uma das administradoras da casa que leva o nome de sua avó, Tony Petzhold (1914-2000), personalidade fundamental da história da dança no Rio Grande do Sul. Tony morreu cerca de dois meses depois da estreia de Das Tripas Sentimento, trabalho ao qual teve a oportunidade de assistir.
– Lembro direitinho da imagem dela vendo o espetáculo – diz June. – Sempre procuro fazer uma reverência a ela, com quem trabalhei no Ballet Phoenix, nos anos 1980, ao lado de Walter Arias (1939-1995). Estou muito feliz de voltar a trabalhar no local que leva seu nome. Fazemos em um espaço onde cabem apenas 40 pessoas. O público fica bem próximo.
O elenco, que também conta com Cassandra Calabouço, Denis Gosh, Lu Paludo e Rossana Scorza, realizará coreografias recriadas de acordo com o novo conceito do espetáculo. Os quadris estão "mais apertados", segundo June, mas da cintura para cima os movimentos estão soltos, inspirados no voo dos pássaros, como se os bailarinos evocassem a ideia de liberdade. Ou de socorro.
O desejo de retornar a Elis Regina veio para a coreógrafa a partir da necessidade de reivindicar uma voz que falasse do feminino, do político e outros conceitos presentes no repertório da cantora. Para June, a obra de Elis continua atual e relevante:
– É como se cada música estivesse falando de hoje, o que me trouxe esse apelo através da linguagem da dança. Nesse contexto, o que prevalece é o sentido poético que o canto dela sugestiona ao bailarino, fio por fio, até o desenrolar de toda a trama.
DAS TRIPAS SENTIMENTO
Estreia para convidados nesta quinta (20). Sessões abertas ao público de sextas a domingos, às 20h. Temporada até 30 de setembro.
Casa Cultural Tony Petzhold (Av. Cristóvão Colombo, 400), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 60. À venda online, na loja Imaginarium do Shopping Iguatemi e na Casa Cultural (das 9h às 18h ou uma hora antes de cada sessão).