
A 4ª edição do South Summit Brazil começou na quarta-feira (9) com muitas atrações e convidados especiais. Entre as novidades, neste ano os participantes estão conhecendo diversas atividades no Boat Lounge da Lojas Renner S.A., um espaço que nasceu para ser o ponto de encontro durante o evento especialmente para empreendedoras e lideranças femininas.
Com a palestra “Paralelos: o que as navegações ensinam sobre liderança feminina”, Tamara Klink deu início a programação. O evento, que lotou a sua capacidade máxima, ainda contou com a mediação de Renata Altenfelder, CMO da Lojas Renner S.A.
Durante mais de 40 minutos, Tamara contou sobre como a sua vontade de se descobrir como velejadora superou os medos que tinha até então de não estar a altura ou ser capaz o suficiente. A jovem comentou que foi através de sua curiosidade nata e de sua falta de ambições sobre a carreira que se deu a chance de “empurrar a desistência (da ideia) mais a diante”.

Foi assim que, aos 23 anos, comprou o seu primeiro barco com ajuda de um seguidor do YouTube, e tudo começou. Com muito instinto de superação, cinco anos depois, a mais jovem velejadora brasileira a cruzar o Oceano Atlântico sozinha descreve uma coleção de aventuras (e desafios) que precisou enfrentar para dar espaço aos seus sonhos.
— Eu tinha tanto medo da primeira viagem que nem pensava em ir longe. Queria, no máximo, tentar navegar por oito horas. E foi um caos: bati numa pedra, achei que o barco ia virar, era de noite, sem piloto automático... Tive que ficar o tempo todo na barra do leme. Eu não acreditava que seria capaz de ir longe. Mas depois dessas oito horas, arrumei o barco, pedi ajuda para muita gente... e a ajuda veio – relembra.
Segundo a navegadora, apesar de enfrentar diferentes perigos ao longo do caminho, a ajuda de pessoas locais foi sempre significativa para que os trajetos crescessem e as distâncias ficassem cada vez maiores. Da primeira navegação de oito horas, ela avançou para 24, depois 48, três dias, uma semana — e assim seguiu.
Ela destaca que se espelhou em diversas mulheres, mas não em ídolos inatingíveis. Suas referências eram mulheres reais, com barcos velhos ou de corrida, com orçamentos variados — mas todas tentando fazer dar certo. E, com elas, compartilhou dificuldades comuns, como a “anedota do cabelo”.
A expressão, explica, simboliza o desafio de manter o cabelo limpo quando não se pode desperdiçar água doce. Mas não é só isso: a ausência de banheiro em barcos ocupados por homens, ou o simples fato de menstruar em alto-mar, exigem adaptação.
— Quando comecei a conviver com mulheres que faziam xixi no balde na frente de todo mundo ou esvaziavam o copinho menstrual no mar, parei de gastar energia com tabus. Em alto-mar, manter comportamentos que nos foram ensinados como adequados pode custar caro. Por isso, precisamos de mais mulheres navegando — e não dizendo que são especiais. Não podemos ser exceção. Precisamos abrir caminho para que outras também possam desejar, apesar dos obstáculos — afirma.
Sobre ser líder de si mesma em um espaço inóspito ou liderar uma equipe em alto mar, Tamara comenta que ter um objetivo simples foi essencial para manter o time alinhado e com clareza sobre o propósito do projeto. Ainda assim, admite que, ao longo da preparação, acabou se tornando bastante dependente das decisões tomadas coletivamente.

Na última expedição, Tamara Klink partiu rumo à Groenlândia, uma região próxima ao Polo Norte, no Ártico. Lá, permaneceu oito meses presa no mar congelado — uma situação que, apesar de extrema, fazia parte de um plano cuidadosamente traçado. Ao todo, ela passou um ano e meio na região, navegando durante dois verões e enfrentando o inverno ártico.
Apesar de acreditar, no início, que viveria em total autonomia e afastada da sociedade, a experiência revelou o oposto: ela nunca havia dependido tanto das pessoas e das decisões tomadas previamente. Essa percepção, segundo a navegadora, só ficou clara quando já estava em campo.
— Nunca fui tão dependente das escolhas feitas por outras pessoas. Não sei dizer exatamente o que é liderar, mas sei o que é confiar a própria vida a decisões tomadas por quem está ao seu lado — pondera.
Ela também relembra seu primeiro contato com a tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, enquanto aguardava o degelo para seguir viagem. O impacto foi grande ao ver, à distância, a devastação enfrentada por quem não estava preparado para aquele cenário.
Já temos dados suficientes para entender que precisamos de infraestrutura e planejamento para as mudanças que estão vindo. Precisamos de cidades mais adaptáveis, tirar pessoas de áreas de risco. E eu me pergunto: cadê essa preparação? Cadê esse debate? É estranho voltar ao Brasil e sentir que isso está sendo esquecido
TAMARA KLINK
Por fim, a navegadora reflete sobre como o mar ensina lições valiosas sobre segurança e autoconhecimento. Segundo ela, é nos momentos de calmaria que o risco costuma ser mais subestimado. Quando o tempo está bom e o mar tranquilo, tendemos a relaxar, deixando de lado equipamentos de segurança e protocolos essenciais. Foi justamente em dias assim, de céu limpo e sol, que ela se viu mais exposta ao perigo — sem colete, sem cinto de segurança e realizando reparos em áreas do barco que evitaria em condições adversas. Nessas situações, bastava um escorregão para que o mar, silencioso e vasto, revelasse sua força e irreversibilidade.
Para ela, o oceano tem esse poder: o de nos lembrar constantemente da nossa fragilidade. Ele nos obriga a recomeçar, a reconhecer que somos pequenos. E é justamente por isso que, nos bons momentos, devemos nos preparar para os maus.
— O tempo ruim sempre volta. E quando voltar, que estejamos mais prontos, mais conscientes e menos propensos a repetir os mesmos erros. Essa é, talvez, a maior lição que o mar pode ensinar — finaliza.
Boat Lounge
De acordo com Renata Altenfelder, CMO da Lojas Renner S.A., o espaço promovido pela marca no South Summit Brazil deste ano amplia o diálogo em torno de temas relevantes, muitas vezes deixados à margem dos grandes palcos — especialmente quando protagonizados por mulheres.
— É fundamental que assuntos ligados ao empoderamento feminino ganhem visibilidade em ambientes que ainda são predominantemente masculinos. Ter um espaço como o barco e uma marca como a Lojas Renner puxando essa conversa reforça o papel da mulher na construção de uma sociedade mais justa e evoluída — destaca Renata.
Ao longo do evento, o Boat Lounge já recebeu nomes como Mari Galindo, CEO e fundadora da Nice House Br., a empresária Luiza Trajano, a diretora de Operações da Lojas Renner S.A., Fabiana Taccola, e a diretora de Gente e Sustentabilidade da Lojas Renner S.A., Regina Durante. O espaço segue ativo até o encerramento do South Summit, das 8h às 20h, como ponto de encontro para empreendedoras, lideranças femininas e convidadas da Lojas Renner S.A., além de participantes com pulseiras Ticket Business e Executive. No fim de cada dia, o barco ainda realiza um passeio exclusivo pelo Guaíba.