Além das indicações de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres foi uma das nominadas para o prêmio de Melhor Atriz pelo papel na produção. No longa de Walter Salles, ela interpreta Eunice Paiva.
O filme, inspirado em livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, retrata a história da família do autor durante a ditadura militar. Em 1971, durante o governo Médici, o deputado Rubens Paiva, marido de Eunice e pai de Marcelo e suas quatro irmãs, foi sequestrado, torturado e morto.
Advogada e mãe de cinco filhos, Eunice se tornou um símbolo da busca por desaparecidos na ditadura. Ela também ficou conhecida pela luta por direitos indígenas. Após mais de uma década convivendo com a doença de Alzheimer, Eunice faleceu em 2018, aos 89 anos.
Quem foi Eunice Paiva?
Nascida em São Paulo em 7 de novembro de 1929, Maria Lucrécia Eunice Facciolla cresceu no bairro do Brás, região central da capital paulista. Sua família era de origem italiana.
Conforme biografia no site Memórias da Ditadura, aos 18 anos Eunice brigou com o pai pelo direito de estudar, e ingressou no curso de Letras da Universidade Mackenzie. Lá, ela foi colega de autores como Lygia Fagundes Telles e Antonio Callado.
Vida familiar
Ela conheceu Rubens Paiva em 1947, e casou com ele em 1952. O casal teve quatro filhas e um filho: Vera, Eliana, Ana Lúcia, Marcelo e Maria Beatriz.
A família residia no Leblon, no Rio de Janeiro. Rubens foi levado da casa onde morava com a esposa e os filhos em 20 de janeiro de 1971, sob justificativa de prestar depoimento. Ele foi conduzido por homens identificados como membros da Aeronáutica ao DOI-Codi.
Como retratado em Ainda Estou Aqui, Eunice foi detida assim como o marido, e ficou presa por 12 dias. A filha Eliana, na época com 15 anos, foi levada com a mãe, e passou a noite no local.
Defesa dos direitos humanos
Após a morte do marido, Eunice retornou para São Paulo com os filhos, e, em 1973, ingressou na Faculdade de Direito. Formou-se advogada e passou a atuar em lutas políticas e sociais, como a busca por desaparecidos na ditadura e defesa de territórios e do povo indígena.
Conforme o escritor indígena Ailton Krenak, membro da Academia Brasileira de Letras, "é impossível contar a história do movimento indígena na ditadura sem falar de Eunice Paiva". A afirmação foi feita à rádio CBN, em novembro de 2024.
Eunice foi uma das fundadoras do Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (Iama). Ela atuou na instituição entre 1987 e 2001.
A advogada liderou campanhas pela abertura de arquivos sobre vítimas do regime militar, ao lado de nomes como Zuzu Angel e Cecília Coimbra. Parte de seu legado é a colaboração na promulgação da Lei nº. 9.140/95, que reconhece como mortos os desaparecidos políticos da ditadura militar.
Caso Rubens Paiva
Eunice obteve o atestado de óbito do marido, oficializando a morte, 25 anos depois do desaparecimento de Rubens Paiva, em 1996. O documento permitiu que a família finalmente acessasse contas bancárias, executasse apólices de seguro e negociasse imóveis.
A primeira prova objetiva do assassinato só foi encontrada 41 anos depois, em novembro de 2012, com uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).