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Nos últimos anos, o conceito de família passou a ganhar cada vez mais relevância nas discussões sobre as formas e regras de estruturação e convivência social. Questiona-se, por exemplo, se a definição tradicional de núcleo familiar, com pai e mãe unidos pelo matrimônio, consegue contemplar as exigências e diversidades da vida contemporânea. Apresentando uma reflexão humanista sobre o tema, o filme japonês Assunto de Família estreia nesta quinta-feira (8) nos cinemas brasileiros.
Dirigido pelo renomado cineasta Hirokazu Koreeda, o longa-metragem foi o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2018 e estava entre os indicados ao Globo de Ouro de filme estrangeiro no último domingo (6) – o troféu ficou com o mexicano Roma. Assunto de Família está entre os nove títulos pré-qualificados para a indicação ao Oscar da categoria – os cinco concorrentes serão conhecidos em 22 de janeiro.
Aclamado por longas como Depois da Vida (1998), Ninguém Pode Saber (2004) e Pais e Filhos (2013), Koreeda volta a se debruçar sobre as relações familiares, que costuma observar pelo ponto de vista de diferentes gerações. Em Assunto de Família, somos primeiro apresentados ao velho Osamu (Lily Franky) e ao jovem Shota (Jyo Kairi). Vivendo juntos em uma relação de pai e filho, os dois costumam realizar furtos em mercadinhos, executados com coordenação impecável. Nobuyo (Sakura Andô) é a mulher de Osamu, que tem o hábito de afanar pertences dos clientes da empresa em que trabalha. Os três vivem em uma casa minúscula que pertence à viúva Hatsue (Kirin Kiki, atriz que morreu em setembro de 2018),
a quem se referem como "vovó". Ainda habita o cubículo a jovem adulta Aki (Mayu Matsuoka), que trabalha se despindo em cabines fechadas.
Diretor evita tom de melodrama redentor
Numa noite de inverno, ao retornarem de um furto bem sucedido, Osamu e Shota encontram abandonada na rua, com frio e fome, a pequena Yuri (Miyu Sasaki). Em um primeiro momento, Osamu e Nobuyo têm a intenção de entregar a garotinha às autoridades. Porém, ao perceberem que os pais da menina são violentos, decidem abrigá-la. Feliz e acomodada em seu novo lar, sem receber, porém, um filtro moral, Yuri se une a Shota e Osamu nos golpes cotidianos.
Muitas cenas de Assunto de Família se passam na pequena casa, com imagens estáticas. O espaço é apertado e bagunçado. É uma desordem claustrofóbica, com caixas empilhadas, roupas espalhadas, móveis velhos e sujeira. Nesse ambiente, Koreeda retrata uma família feliz, apesar de seus desvios e dificuldades. Em meio a todo esse caos, o cineasta apresenta um olhar paciente e delicado sobre seus enigmáticos personagens. Cineasta habilidoso, não cai na tentação de realizar um melodrama redentor, como se poderia esperar de uma história dessas.
Apesar de ser demasiadamente didático na reta final, com personagens centralizados em depoimentos "documentais", como em Depois da Vida, e não desenvolver muito bem Aki (a jovem é um tanto deslocada na trama e não diz a que veio), Assunto de Família proporciona uma experiência cativante.
Ao fim, Koreeda volta a iluminar a definição de família, tema que abordou com maestria em Pais e Filhos: é aquele arranjo amarrado por uma relação de amor que independe do laço de sangue.
Um cineasta singular
Hirokazu Koreeda iniciou carreira como documentarista e despontou quando apresentou, no Festival de Veneza, seu primeiro longa ficcional, Luz da Ilusão (1995). A história de uma mulher que tenta refazer a vida com o filho após a morte do marido ganhou o prêmio de melhor fotografia e uma menção honrosa.
Koreeda comprovou ser um realizador singular com Depois da Vida (1998), delicado drama em que a pessoa morta ganha a oportunidade de escolher uma memória marcante de sua existência para carregar pela eternidade.
Desde que apresentou Tão Distante (2001) no Festival de Cannes, o diretor japonês encontrou no evento francês a plataforma de lançamento para tramas familiares em que se sobressai o olhar das crianças – e nos quais costuma imprimir o tom naturalista de seu DNA documental. Ninguém Pode Saber (2004), sobre irmãos obrigados a viver escondidos num apartamento, conquistou o troféu de melhor ator. Pais e Filhos (2013) levou o Prêmio do Júri.
Koreeda finaliza agora The Truth, sobre o conturbado relacionamento entre uma filha e sua mãe atriz.
Salas e horários
Espaço Iatú 2 (13h30, 18h30, 21h0
GNC Moinhos 1 (16h10) e 3 (22h)
Guion Center 2 (14h30, 16h45, 19h)