O diretor Guy Ritchie despontou em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) e Snatch: Porcos e Diamantes (2000) como uma espécie de resposta britânica a Quentin Tarantino, realizando filmes hiperviolentos cheios de ironia, referências pop e linguagem das ruas. Diferentemente do cineasta norte-americano, porém, o inglês nunca conseguiu ir além do pastiche e da mixórdia em produções que fazem muito barulho, mas pouco dizem. Depois de esculhambar com Sherlock Holmes e os agentes da U.N.C.L.E., Ritchie reduz agora a seu nível rasteiro um ícone cultural ainda mais venerável. Em cartaz na Capital a partir desta semana, Rei Arthur: A Lenda da Espada (2017) mostra o mítico personagem como um garoto criado clandestinamente em um bordel que descobre ser herdeiro do trono da Inglaterra, usurpado de seu pai pelo ambicioso tio.
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A história começa mostrando como o nobre rei Uther (Eric Bana) é traído e morto pelo irmão Vortigern (Jude Law), em conluio com o mago Mordred. Colocado em um barco pelo pai momentos antes de ser assassinado, o pequeno Arthur é encontrado no rio por um grupo de prostitutas que acaba adotando o menino. O jovem cresce moldado pela dureza da vida no submundo sórdido – a frenética sequência que condensa em cenas rápidas e curtas a educação do protagonista na base do muque é uma das melhores passagens do filme. Já adulto e coberto de músculos, Arthur (Charlie Hunnam, o Jax Teller da série Sons of Anarchy) virou uma espécie de cafetão e líder gângster – do bem, claro. Preso por guardas quando fugia, Arthur é obrigado a entrar na fila de homens que tentam retirar a espada Excalibur da pedra na qual está cravada – Vortigern quer descobrir quem é o legítimo sucessor da coroa. O protagonista consegue arrancar a lâmina, mas reluta em encarar seu destino real. No entanto, pressionado por rebeldes liderados por Bedivere (Djimon Hounsou) e que incluem o guerreiro Bill (Aidan Gillen, o Mindinho de Game of Thrones) e uma misteriosa maga (Astrid BergèsFrisbey), Arthur decide enfrentar o tirano Vortigern.
A maçaroca de Rei Arthur mistura O Senhor dos Anéis e GoT, pancadaria e estética de games, monstros em CGI excessivamente artificiais e malandros que parecem saídos de um beco da Londres contemporânea – há até uma escola de kung fu na história. Salva-se pouco: um tenebroso monstro aquático tentacular formado pelos corpos de três bruxas e a atuação sempre competente de Jude Law – cujo pérfido e sádico monarca que interpreta tem o caráter de Macbeth e a aparência do Hamlet vivido no cinema pelo grande Laurence Olivier no filme homônimo de 1948.
Rei Arthur: A Lenda da Espada
De Guy Ritchie
Aventura, EUA/Austrália/Reino Unido, 2017, 127min, 14 anos
Cotação: regular
Onde assistir: Arcoplex Boulevard, Cine Victória, Cineflix Total, Cinespaço Wallig, Cinemark Barra, Cinemark Ipiranga, Espaço Itaú, GNC Lindoia, GNC Iguatemi e GNC Praia de Belas.