Um homem da arte, do mundo e de si mesmo. Assim Vinicius de Moraes é retratado na exposição Por Toda a Minha Vida, que será inaugurada em Porto Alegre nesta quarta-feira (20), às 10h, na Galeria do Farol Santander (Av. Sete de Setembro, 1.028). A mostra fica aberta para visitação até 19 de maio, de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos e feriados, das 11h às 18h. Os ingressos para o Farol custam R$ 20, à venda pela Sympla e no local.
Dispostos no segundo andar do espaço cultural, mais de 350 itens guiam o público por uma aventura surpreendente pela obra de Vinicius de Moraes. Não é o poeta ou o músico que está representado ali. Não somente, ao menos. Com documentos históricos, manuscritos pessoais, cadernos, desenhos, fotografias, discos e obras de arte, a exposição dá conta de apresentá-lo em toda a sua multiplicidade, indo muito além da música e da poesia.
O percurso se inicia pela atuação de Vinicius como dramaturgo. O primeiro ato da mostra trata do espetáculo Orfeu da Conceição, escrito como uma adaptação do mito grego de Orfeu e Eurídice, que ele transporta para as periferias cariocas dos anos 1950. Fotos de ensaios, cartazes de divulgação, uma ilustração do cenário desenhado por Oscar Niemeyer e outros itens ocupam as paredes e ajudam a dimensionar a importância da montagem para o teatro brasileiro.
Ali também aparece a primeira fotografia ao lado de Tom Jobim, uma vez que as músicas de Orfeu da Conceição inauguram a célebre parceria artística dos dois. Vinicius conheceu Tom enquanto buscava um nome para musicar sua peça, adaptada ao cinema em 1959, sob o título Orfeu Negro. Vencedora do Oscar de filme estrangeiro (pela França) e da Palma de Ouro em Cannes, a coprodução entre Brasil, França e Itália foi roteirizada pelo diretor Marcel Camus e por Jacques Viot a partir da história criada por Vinicius — por isso, também tem espaço na exposição.
O passeio por sua obra tem na música a próxima parada. As paredes da Galeria do Farol Santander são tomadas, então, por retratos de Vinicius ao lado de nomes como Pixinguinha, Dorival Caymmi, João Gilberto, Chico Buarque, Maria Bethânia e, como não poderia deixar de ser, Tom Jobim, sua dupla incontestável. Capas de discos, vídeos e áudios com o homenageado interpretando algumas de suas mais célebres composições também formam o núcleo musical da exposição.
Já o lado poeta é exaltado durante todo o percurso da mostra. Mesas expositivas trazem, desde o primeiro núcleo, poemas, livros e manuscritos originais do artista. É possível ver de perto, por exemplo, as primeiras versões de Por Toda a Minha Vida e Soneto de Fidelidade, escritas à mão por Vinicius, com direito a rasuras em trechos que o poeta preferiu alterar.
Organizar a mostra dessa forma foi uma escolha da dupla de curadores, Eucanaã Ferraz e Helena Severo. Ferraz detalha que a poesia perpassa toda a obra artística de Vinicius e, por isso, o percurso criado para a exposição também é atravessado por ela.
— Quando se fala do Vinicius no teatro, no cinema e na música, também se fala do Vinicius na poesia, pois tudo foi um desdobramento do poeta. O centro desses muitos Vinicius é o Vinicius poeta, por isso ele perpassa todos os momentos da exposição — explica o curador.
A parada seguinte destaca o trabalho de Vinicius para as crianças, com um núcleo inteiramente dedicado à obra infantil A Arca de Noé. O espaço conta com instalações lúdicas que tornam a exposição atrativa também para os pequenos.
— Vinicius de Moraes atravessa gerações, não tem barreira para ele. Aliás, o que ele nos ensina é que não há barreiras para ninguém, que um mundo com barreiras é um mundo errado — destaca Ferraz, que se dedica à obra do artista há mais de 20 anos.
Andanças pelo mundo
Vinicius era, ele próprio, cidadão de um mundo sem barreiras. É algo que fica nítido no momento seguinte da exposição, dedicado às andanças dele pelo globo. O núcleo traz fotografias e objetos que remetem a diferentes lugares pelos quais passou. E não há distinção entre eles: pequenas cidades brasileiras dividem espaço com metrópoles do mundo, pois, para o artista, não havia diferença entre estar sentado em uma calçada de Ouro Preto e um teatro de Paris.
A relação com outros grandes nomes da arte também é exaltada. Integram a mostra pinturas de Portinari, Carybé e Di Cavalcanti, ofertando ao público a oportunidade de ver de perto obras originais desses artistas renomados.
Contudo, o grande trunfo da exposição está na parada final. No núcleo derradeiro, estão expostos itens raros que ajudam a entender as raízes da genialidade de Vinicius. São registros de desenhos, textos e outros trabalhos feitos por ele ainda na infância, em suas primeiras aventuras artísticas. Há um jornal experimental criado manualmente por um Vinicius de oito anos de idade que já se sentia à vontade para se alçar ao cargo de "redator-chefe", como quem sabe que será grande. Ao fim da exposição, fica claro que ele estava certo: foi gigante.
É por isso que a mostra não acaba quando termina. No caminho para a saída, já um pouco mais fora de cena, há uma última instalação, que permite ouvir Vinicius antes de ir embora. E assim, quem sabe, decidir ficar.
— Quando chegar ao final, a proposta é que você recomece e veja tudo de novo — brinca o curador. — Vinicius de Moraes não acaba quando termina, nunca é demasiado. O melhor Brasil deve muito a Vinicius de Moraes.
Exposição "Vinicius de Moraes — Por Toda a Minha Vida"
- Abertura nesta quarta-feira (20), às 10h, na Galeria do Farol Santander (Rua Sete de Setembro, 1.028), em Porto Alegre.
- Visitação de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos e feriados, das 11h às 18h. Temporada até 19 de maio.
- Ingressos a R$ 20 pela plataforma Sympla e no local.
- Crianças de até 2 anos e 11 meses não pagam.