O projeto performático Quase-Oração foi retomado nesta quinta-feira (25) em Porto Alegre, com a contagem dos mortos por covid-19 no Brasil. A iniciativa foi lançada em 25 de janeiro, com a narração do número de óbitos da pandemia, um a um. Na estreia, o grupo alcançou a marca de 225.143 (total de mortes até aquele momento) ao longo de nove dias de ação ininterrupta, com transmissões ao vivo pelo Instagram.
Após o lançamento, houve mais uma edição da contagem, que a atualizou até 250 mil. A ação desta quinta tem essa marca como ponto de partida, mas será mais modesta na duração. Com encerramento à meia-noite, serão 14 horas de dinâmica, suficientes para contar cerca 20 mil mortos, permanecendo ainda longe dos 300 mil, número ultrapassado nesta semana.
— A chegada aos 300 mil é estarrecedora. Isso nos motiva a retomar o projeto, pois é um momento muito importante. Por outro lado, as pessoas não estão conseguindo participar da ação. Contar os mortos é muito difícil do ponto de vista emocional. Os números são tão absurdos que já não conseguimos mais alcançá-los — aponta Diego Groisman, um dos criadores da performance.
Com diferentes convidados se revezando de hora em hora diante da tela, a transmissão é organizada a partir do perfil @quaseoracao. Groisman criou o grupo ao lado dos amigos Manoela Cavalinho e Andrei Moura. Atualmente, a equipe tem mais de 60 colaboradores.
Nesta quinta, haverá uma novidade fora do ambiente digital. Com apoio do grupo Projetores pela Cultura, a performance será projetada em diferentes pontos da cidade ao longo do dia. O percurso não está sendo divulgado, mas é certo que por volta das 19h, ao cair da noite, a projeção tomará conta das paredes da Casa de Cultura Mario Quintana, no Centro Histórico de Porto Alegre.
A contagem dos números é sóbria, sem recursos de interpretação, embora muitos convidados se emocionem ao longo da ação.
— Nossa intenção é gerar incômodo para que as pessoas entendam o drama da situação atual. Queremos entrar no Instagram, em que muitas pessoas postam suas selfies, como se nada estivesse acontecendo, para romper o ciclo de normalidade. Ao contar um a um os mortos, conseguimos demonstrar de alguma forma a enormidade dessa tragédia — afirma Groisman.