Em entrevista ao programa Timeline, na manhã desta segunda-feira (11), o coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL) Kim Kataguiri falou sobre a campanha de boicote do grupo à exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. Prevista para ficar em cartaz até o dia 8 de outubro, no Santander Cultural, a mostra foi cancelada pela instituição neste domingo. Foi a reação do Santander Cultural ao movimento de protesto de entidades e pessoas que avaliaram a mostra como ofensiva, por razões que vão de "blasfêmia" no uso de símbolos católicos à difusão de "pedofilia" e "zoofilia" em alguns dos trabalhos expostos.
— Fizemos a campanha porque isso envolveu dinheiro público na promoção de zoofilia, pedofilia e a ofensa à fé cristã. A partir do momento em que você é parte dessa maneira ofensiva, tendo como alvo, segundo o edital, alunos de escolas públicas e particulares, você não está promovendo igualdade ou tolerância em relação aos LGBT. Isso eu também defendo, que todos sejam respeitados pela sociedade independente de orientação sexual e tenham os mesmos direitos perante à lei. Isso não tem absolutamente nada a ver em mostrar para crianças um crucifixo embaixo de um pote de hóstias, na qual uma delas está escrito "cu". O que diabos isso tem a ver com tolerância e respeito aos LGBT? Vários amigos meus LGBT vieram falar comigo que acharam isso uma ofensa. Isso é retratá-los como seres bestiais e agressivos — argumentou Kim.
Leia mais
"Não fui consultado sobre o cancelamento", diz curador
"Não entendo que isso seja arte", diz coordenadora do MBL/RS
Entidades LGBT anunciam ato em repúdio ao fechamento da mostra
Ele negou que o MBL estivesse agindo de forma autoritária ao realizar o boicote.
– Não existe maior expressão do livre mercado e da soberania do cliente que o boicote. Isso também não foi só o MBL, foram também os clientes do Santander. A partir de um momento em que a empresa ofende os valores de seu cliente, ela sofre boicote. Esse é o maior sinal da soberania do cliente, de que acabou o sistema de classes do feudalismo e que hoje o maior rei é o consumidor – ressaltou. — A partir do momento que dinheiro público estava sendo utilizado para agredir valores da maioria dos pagadores de impostos, o público tem direito de se manifestar, sim. Não há nada de censura nisso – completou depois.
O coordenador do MBL elogiou a ação do banco em voltar atrás.
— Se o Santander pudesse sobreviver com clientes que pudessem tolerar ataques ao cristianismo e promoção de pedofilia e zoofilia, o banco faria a mostra. Isso é uma demonstração de respeito do banco ao voltar atrás em relação aos valores seus clientes. Nós não pedimos que nenhuma lei proibisse a mostra, nem que o Estado intervisse, nós utilizamos o nosso direito de liberdade de expressão para realizar uma campanha de boicote, assim as pessoas pressionaram o banco a voltar atrás. A escolha é do banco, poderia optar por não fechar — destacou.
Leia mais
Veja manifestações sobre o encerramento da exposição
FOTOS: veja imagens da exposição "Queermuseu", que foi cancelada após críticas nas redes
Kim alega que seria contrário à exposição mesmo que se tratasse sobre um tema que defende, caso ela fosse financiada com dinheiro público.
— Tem que acabar com a Lei Rouanet. Numa crise de segurança pública, educação e saúde, a gente vai investir em exposições? — questionou.
Ouça a entrevista: