Neste sábado (10), às 18h30min, na Feira do Livro, o jornalista Irineu Guarnier e o fotógrafo Eduardo Scaravaglione estarão lançando e autografando o livro Ferrugem no Sangue - Histórias de Carros Inesquecíveis (145 pág, 96 fotos P&B, Farol 3 Editores, R$ 40), obra que é o resultado da parceria dessa dupla qualificada. Surpreso, recebi deles o irrecusável convite para escrever o prefácio. Afinal, somos, os três, loucamente apaixonados por esse conjunto de aço, parafusos, borracha, vidro, ferrugem e sonhos que compõe o universo dos carros antigos.
Atribuo a origem dessa minha tara bendita aos anos de estudante dos cursos de Mecânica e Ajustagem e de Máquinas e Motores, na Escola Técnica Parobé, durante os anos 1960. Foi o gosto por carros que me conduziu à fotografia, minha profissão de uma vida inteira. Fotografei as últimas corridas nas ruas da Capital. Para a revista Quatro Rodas, em Tarumã, testemunhei as vitórias de Pedro Victor de Lamare, na Divisão 3, de Clovis de Moraes, na Fórmula Ford, e o trágico acidente que matou Pedro Carneiro Pereira e Ivan Iglesias, em 1973.
Naquele mesmo ano, fotografei Emerson Fittipaldi com sua Lotus preta e dourada (John Player Special) vencendo na Fórmula-1, em Interlagos. Também acompanhei, registrando de perto, Ayrton Senna, em GPs do Brasil – desde o primeiro, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em 1984, pela Toleman. Também o acompanhei em duas corridas na Europa: uma em Estoril (Portugal) e outra em Barcelona (Espanha), pela McLaren.
Em 1991, na inauguração do autódromo da Catalunha, em Montmeló, além de Senna, tive o prazer de ver e fotografar Juan Manuel Fangio (1911-1995), com quase 80 anos, a bordo do Mercedes “Flecha de Prata”, sentando a bota, em uma inesquecível volta de apresentação em homenagem ao grande piloto argentino, campeão mundial por cinco vezes. Fangio foi efusivamente saudado por bandeiras tremulando ao som do ronco do antigo carro de competição que acelerava majestoso e solitário na pista.
Meu primeiro carro, aos 18 anos, foi um antigo DKW (Auto Union) 1937. Já maduro, em 1992, na impossibilidade financeira de comprar um carro antigo, comprei um carro velho um Gordini 1966. Ao longo de 15 anos, reformei-o todinho. Foi com pesar que me desfiz dele, por falta de espaço, depois que mudei de uma casa, com pátio e garagem, para o apartamento em que vivo. Paguei R$ 1,5 mil por ele e o vendi por R$ 17 mil! É bem verdade que gastei uns R$ 15 mil para deixá-lo bacana. Mas o tanto que me diverti não tem preço.
Fomos envelhecendo um pouco mais, juntos, mas, enquanto ele se valorizou, acho que “enferrujei” um pouco. Não tanto que me impeça de, aos 68 anos, montar e pilotar minha Hornet 650 F e de estar ainda aqui, para curtir aquilo que a vida tem de melhor: a paixão, seja ela pelo que for.