A maioria dos jovens leitores de Zero Hora aprendeu com os seus pais a desfrutar um prazer que desde há muito tempo foi sendo incorporado como um hábito na sua rotina, o de começar a leitura da nossa ZH pela penúltima página, hoje ocupada pelo talentoso David Coimbra, mas até recentemente pelo extraordinário colunista Paulo Sant’Ana.
Essa tradição, tão gaúcha quanto o costume de frequentar CTGs, inclusive foi o motivo da homenagem prestada ao Sant’Ana quando, no último dia 21, a Redação fez uma edição inteira com a paginação invertida, começando pela última página, que foi transformada na "capa" (primeira página) do jornal. Muito justo, bonito e adequado. Mas os leitores mais antigos lembram que, antes do David e do Sant’Ana, era o Carlos Nobre quem ocupava aquele espaço que foi se tornando, cada vez mais, um lugar especialmente valorizado.
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Iniciar a leitura diária pelo bom humor do famoso guaibense, nascido em 1929, foi, durante muito tempo, uma oportunidade de se "vacinar" para enfrentar as demais notícias, nem sempre boas.
Ninguém resistia ao alto-astral do Nobre. Todos os dias, suas breves notinhas eram comentadas, e compartilhadas, por grande parte da população do nosso Estado. Antes que ele estreasse a sua coluna de humor, a penúltima página pertencia à editoria de Esporte. Nunca foi desimportante, mas era somente uma página a mais.
Desde o dia 18 de agosto de 1975, quando começou, até a última coluna que escreveu, no dia de sua morte, em 16 de dezembro de 1985 (publicada no dia seguinte), Carlos Nobre foi o soberano de um espaço que os nossos leitores aprenderam a admirar e a respeitar.