A maioria dos jovens leitores de Zero Hora aprendeu com os seus pais a desfrutar um prazer que desde há muito tempo foi sendo incorporado como um hábito na sua rotina, o de começar a leitura da nossa ZH pela penúltima página, hoje ocupada pelo talentoso David Coimbra, mas até recentemente pelo extraordinário colunista Paulo Sant’Ana.
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Essa tradição, tão gaúcha quanto o costume de frequentar CTGs, inclusive foi o motivo da homenagem prestada ao Sant’Ana quando, no último dia 21, a Redação fez uma edição inteira com a paginação invertida, começando pela última página, que foi transformada na "capa" (primeira página) do jornal. Muito justo, bonito e adequado. Mas os leitores mais antigos lembram que, antes do David e do Sant’Ana, era o Carlos Nobre quem ocupava aquele espaço que foi se tornando, cada vez mais, um lugar especialmente valorizado.
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Ninguém resistia ao alto-astral do Nobre. Todos os dias, suas breves notinhas eram comentadas, e compartilhadas, por grande parte da população do nosso Estado. Antes que ele estreasse a sua coluna de humor, a penúltima página pertencia à editoria de Esporte. Nunca foi desimportante, mas era somente uma página a mais.
Desde o dia 18 de agosto de 1975, quando começou, até a última coluna que escreveu, no dia de sua morte, em 16 de dezembro de 1985 (publicada no dia seguinte), Carlos Nobre foi o soberano de um espaço que os nossos leitores aprenderam a admirar e a respeitar.
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