Na última quarta-feira, numa nota sobre o monumento do Laçador, nosso colaborador Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite (pesquisador e coordenador no Museu de Comunicação) nos contava que, em 1940, o então prefeito, Loureiro da Silva, planejou instalar na Avenida Farrapos, à entrada da cidade, uma estátua equestre de um gaúcho, obra do escultor Marcos Bastos, o que nunca aconteceu por ingerências históricas. Carlos Roberto dizia ainda que "atualmente não se tem notícia desse artista" e que a maquete do projeto estaria desaparecida. Recebi uma mensagem de Maria Madalena, professora de inglês e neta do escultor, e através dela pude estar com Maria do Carmo, sua mãe e uma das três filhas de Marcos Bastos.
Essa é uma daquelas histórias tristes, de injustiça e frustração. João Marcos Teixeira Bastos (1894-1959) morreu aos 64 anos, sem ver seu sonho realizado. Nesta sexta (dia 24), completaram-se 123 anos do seu nascimento, aqui mesmo, em Porto Alegre. Na Exposição do Centenário Farroupilha, em 1935, no Pavilhão Cultural, sob a direção de Walter Spalding, o porto-alegrense expôs sua obra Bombeador (aquele que observa, espreita, espia), a escultura de um gaúcho montado, fitando o horizonte, com pouco mais de um metro. Foi essa a imagem que Loureiro encontrou no humilde e primitivo galpão da Avenida Oscar Pereira, na Glória, onde Bastos tinha seu ateliê.
Escolhida para se tornar o monumento que recepcionaria os viajantes, este seria colocado na Praça do Bombeador, onde, somente em 1958, foi inaugurada a estátua do Laçador, de Antônio Caringi. Devido às dimensões monumentais da obra, após a encomenda, Marcos Bastos passou a trabalhar dedicada e incessantemente num grande espaço antes ocupado pela Cervejaria Ritter, no bairro Navegantes.
O gesto de vigília ganhou forma e a estrutura de metal e madeira, cercada de andaimes, foi sendo coberta pela argila moldada. Quando pronta, chegou do Rio de Janeiro um "formador" da Fundição Irmãos Zani. Ele preparou os moldes em gesso, onde seria despejado o bronze líquido. Esses moldes chegaram a ser levados para o cais do porto, onde seriam embarcados para o Rio.
A história desse monumento, por "falta de verbas" (ou, mais provavelmente, de vontade política), acabou ali. Menos para Marcos Bastos, que morreu inconformado. De acordo com o escritor Reinaldo Moura, Bastos era "um escultor enfeitiçado pela sua terra". Ele adorava o pampa, os cavalos (teve um, chamado Maio), a "indiada dura, mas sincera e guapa", pelas suas próprias palavras. Bastos, no majestoso ateliê improvisado, era, segundo Moura, "um deus anônimo desse caos de esperança". Injustamente, a história quis que assim permanecesse. E o gaúcho, símbolo da nossa Capital, que está de aniversário, acabou ficando, então, a pé.