Quando acordei e abri a janela do quarto do hotel, vi a cena que jamais vou esquecer na minha vida. Do alto do nono andar, pude apreciar os primeiros raios de sol refletindo no tranquilo e limpo rio Elba. Observando um pouco mais, vi o presente e o passado num mesmo cenário, ou seja, de um lado o Bairro Altstadt - o centro histórico da cidade - e, do outro, o Bairro Neustadt, a parte nova. Ali há bares, cafés, cinemas e lojas. Por falar em café, acho que nunca tomei um café tão rápido lá no hotel, pois fiquei com muita vontade de conhecer Dresden para saber como esta cidade conseguiu se recuperar tão rapidamente depois de ter sido bombardeada durante a 2ª Guerra Mundial, em 1945.
Saí do hotel e comecei a fazer algo que Dresden convida muito: caminhar. Aquela coisa de estar pisando em um lugar que foi bombardeado, onde foram dados os primeiros passos para a queda do Muro de Berlim (junto com a população de Leipzig), e que hoje abriga velhos e novos prédios, praças espaçosas, além de castelos. Tudo isso me deixou hipnotizado.
A partir do momento em que botei o pé para fora do hotel, começou a correria. Eu não queria perder um minuto. Nem dei bola para o frio de zero grau. Já fui imediatamente para a beira do rio Elba olhar os barcos a vapor. Mas foi só olhar para o lado e vi ali, imponente, na ampla Praça do Teatro, o palácio Residenzschloss, antiga sede do governo e residência dos príncipes até 1918. Dá vontade de ficar observando o dia inteiro. Ao circular pela ampla praça, vi o Palácio de Zwinger, o prédio grandioso em estilo barroco, construído em 1710. Atualmente, ali ocorrem concertos e outras apresentações.
Caminhei mais um pouco e deparei com a Frauenkirche, igreja construída entre 1726 e 1743, destruída no bombardeio de 45, e reconstruída após a reunificação das Alemanhas. Hoje, ela é o símbolo da reconciliação. Após caminhar uns 15 quilômetros, fui jantar no Luisenhof, um restaurante que fica no alto de um morro de onde você pode ver toda a cidade.
Maravilhado com tudo que tinha visto durante o dia, não resisti e fiz uma coisa que, por incrível que pareça, ainda não tinha feito na Alemanha: tomei uma cerveja, daquelas cremosas. Após o primeiro gole, pensei: "como tiveram coragem de bombardear esta cidade?"
Com certeza, nestas 24 horas, Dresden havia dito para mim: "Muito prazer em te conhecer, Rafael". E, naquele final de noite, dentro daquele restaurante, olhando para toda a cidade, eu respondi em voz alta na mesa: "o prazer foi todo meu, Dresden. Foi uma honra conhecê-la". Imediatamente todos me olharam e perguntaram o que eu havia falado. Abri um sorriso e disse: "nada, nada, eu só estou pensando alto".
Bem pertinho da capital
Além das belezas naturais da Alemanha, o que me atraiu muito no país foi aprofundar meu conhecimento sobre a Guerra Fria. Diante disso, ao chegar em Potsdam, antes de apreciar alguns dos 500 palácios do Estado de Brandenburgo, visitei o local onde a polícia secreta alemã prendia as pessoas que eram contra o regime socialista, a Lindenstrasse 54.
Foi um momento que, confesso, me assustou, mas de grande proveito. O lugar é macabro, com celas de apenas sete metros quadrados. Fiquei imaginando o que ocorria com as pessoas que eram punidas, sendo que 90% delas estavam ali só porque não concordavam com o regime de governo.
Ainda relacionado ao início da Guerra Fria, entrei no lugar onde tudo isso começou, no Castelo Cecilienhof. Foi ali que ocorreu a reunião entre os líderes de países aliados, conhecida como Conferência de Potsdam, para decidir a nova divisão da Alemanha, em 1945. Trata-se de uma sala de estar de 12 metros de altura, com mesas e cadeiras originais.
Depois, subi no lugar mais alto de Potsdam, no mirante do belvedere Pfingstberg. Ali, inclusive, você ganha tempo, pois conhece toda a cidade, pelo menos de cima, apenas dando um giro com a cabeça. Tudo em um lugar que fica a apenas 30 quilômetros da capital, Berlim.
*Repórter viajou a convite do Centro de Turismo Alemão
Turismo histórico
Dresden é destino imperdível na Alemanha
Cidade quase despareceu do mapa depois de ter sido bombardeada durante a 2ª Guerra Mundial, em 1945
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