No encontro da Avenida Emancipação com a Rua 15 de Novembro, em frente ao Centro das Fábricas, o personagem mais popular de Tramandaí, no Litoral Norte, pode ser encontrado. Trata-se de "Seu Queijinho", apelido carinhoso de Manoel Antônio Mateus, 71 anos.
Ao lado de uma bicicleta azul com duas cestas, o vendedor de óculos e com um robusto bigode branco comercializa saquinhos com pães de queijo. E coleciona bordões, sempre proferidos aos gritos em direção a quem passa:
— Não briguem.
— Não empurrem.
— Façam fila.
— Tá terminando, venha.
— A vida é dura pra quem é mole.
— Vem dona Maria, a senhora tá com a vida ganha.
— Olha o queijinho.
— Ajuda a minha mulher a ir pra Nova York.
A fama é tanta que Seu Queijinho, natural de Rio Grande, foi agraciado no ano passado com o título de Cidadão Emérito pela Câmara de Vereadores do município, o que o enche de orgulho.
O vendedor afirma que trabalhar na rua rende mais do que se estivesse em um ponto comercial em espaço fechado. Há 30 anos, ele chega ao mesmo local com sua bicicleta e o uniforme composto por camisa e chapéu de mestre-cuca, ambos de cor branca. Vende 1,5 mil pães de queijo por dia.
— Tenho 100 mil clientes de pão de queijo. Digo sem medo de errar — compartilha com convicção.
As opções oferecidas são sete pães de queijo (R$ 10) nas embalagens maiores ou três nas menores (R$ 5). Seu Queijinho é o responsável por preparar os itens, com o auxílio da esposa Eliane. O ex-policial vive em Tramandaí há 35 anos. O casal tem o filho Vinicius.
— É muito gasto para fazer. Entra muito dinheiro, mas sai muito também. É meio a meio no lucro e no que sobra — avalia sobre a produção.
Há tantas décadas no mesmo ponto, onde pode ser encontrado a partir das 15h na temporada de verão, ele conhece muita gente e cumprimenta quem passa pelo nome. Nesse tempo todo, já viveu cenas inusitadas e divertidas.
— Uma vez, dois rapazes disseram para mim que era um assalto. E colocaram a mão sobre a cintura e mostraram as armas. Mas estava cheio de gente e eu falei: "Vai te deitar, o chinelo". Chamei os caras de chinelo e eles foram embora. Mas era assalto mesmo — diverte-se com a própria sorte e com o desenlace feliz da situação na ocasião.
Questionado sobre a receita de um bom pão de queijo, Seu Queijinho olha para o horizonte e diz:
— Só tem uma receita: faça as coisas com amor, com carinho. Aí tudo dá certo — aconselha.
A reportagem de Zero Hora testemunhou a popularidade do vendedor. Muitas pessoas param ao lado de sua bicicleta e pedem pães de queijo para levar para casa. A professora Marilia Kley, 41, era uma delas.
— A gente comprou há um tempo atrás. É muito bom e as crianças adoram. Levamos para a praia — conta.
O aposentado Valdocir Terra da Silva, 64, já é cliente do comerciante há quatro anos.
— É muito bom. Toda vez que passo aqui compro alguns — menciona.
Ninguém é mais conhecido do que ele nas ruas de Tramandaí. E se você, leitor, pensar em ir conhecê-lo, por favor, não empurre. Faça fila. Compre alguns pãezinhos e ajude a esposa dele a ir para Nova York. Seu Queijinho é um sucesso absoluto.