De norte a sul do litoral do Rio Grande do Sul, os córregos de água que atravessam as praias das dunas até o mar geram dúvidas entre os banhistas. Muitos evitam pisar, enquanto outros rapidamente correm ao mar para lavar os pés em caso de contato.
Embora não haja um monitoramento específico sobre a qualidade desta água, o líquido é proveniente do esgoto pluvial de drenagem urbana e não deve carregar poluentes. No entanto, especialistas alertam que a sobrecarga do sistema de esgoto sanitário e as ligações clandestinas podem prejudicar a qualidade dessa água.
— O problema é quando tem chuvas intensas, esse excedente de esgoto é carregado para o mar e faz a contaminação. Tem transbordamento de fossa, ligações clandestinas, é uma situação complicada de fiscalizar — alerta Carlos Todeschini, engenheiro agrônomo e membro do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí.
Pontos impróprios para banho
O último boletim de balneabilidade, divulgado na sexta-feira (31) pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), mostra que dois pontos na área central de Capão da Canoa estão impróprios para banho. É a primeira vez no veraneio que o local apresenta poluição. As coletas ocorreram em um período de chuva.
O secretário de Meio Ambiente do município, Beto Rocha, afirma que os córregos são sempre monitorados e, quando há ligações clandestinas de esgoto cloacal, logo são identificados. Sobre os pontos impróprios para banho, o secretário afirma:
— Nesses dois locais, temos apenas as galerias do pluvial que atravessam a Avenida Beira-Mar. Estamos muito preocupados e trabalhando com Fepam, Corsan e Secretaria do Meio Ambiente do município investigando o que aconteceu, pois já tivemos 10 análises que não apontaram esse problema — diz Rocha.
Situações revertidas
Neste veraneio, outros dois pontos do mar foram considerados impróprios para banho no Litoral Norte, no período de virada do ano: Mariluz, em Imbé, e Avenida da Igreja, em Tramandaí. As duas situações foram revertidas nos boletins posteriores, sendo consideradas próprias para banho.
— Foi no período de festas de final de ano. Temos 27 mil habitantes, mas nesse período contávamos com 350 mil pessoas. Isso corrobora para que o sistema colapse — diz a secretária de Meio Ambiente de Imbé, Nélida Pereira.
Já Tramandaí afirma que o problema ocorreu por descarte irregular de esgoto por parte da população e que a situação foi resolvida.
Filtro biológico
O engenheiro ambiental Bento Perrone diz que o sistema de esgoto pluvial por tubulações não é o mais adequado para o Litoral. Ele aponta que a melhor forma para escoar a água da chuva seria com uso de valas abertas:
— Por ter um ambiente mais perto do natural, tem bastante vida, peixe, anfíbios, insetos, aves. Tem uma cadeia viva aqui que acaba ajudando a prevenir as contaminações de esgoto, porque tudo funciona como filtro biológico. As plantas retêm poluentes no lençol freático ou mesmo no esgoto.
Todeschini, que já foi diretor do extinto Departamento de Esgoto Pluvial (DEP) de Porto Alegre, complementa:
— Como a gente tem um período de estiagem, a contaminação ocorre em baixos volumes e o mar desidrata os patógenos. É só cuidar para não se banhar na saída desses canais que conduzem esses córregos para o mar.
Fiscalizações
Consultados por Zero Hora, os municípios de Capão da Canoa, Xangri-lá, Imbé e Tramandaí afirmam que não realizam testes da qualidade desta água e que o monitoramento de balneabilidade é de responsabilidade da Fepam. No entanto, afirmam que fazem fiscalizações sobre ligações irregulares e lançamento de dejetos na rede pluvial.
— Nesses córregos, a fiscalização faz rotina de vistoria, e no último ano não constataram nenhum tipo de efluente que tivesse características de água contaminada — diz Nélida Pereira, secretária de Meio Ambiente de Imbé.
Vivia Quadros, secretária de Meio Ambiente de Xangri-lá, afirma:
— A drenagem pluvial no município ocorre em geral de forma superficial, mas em alguns casos através de galerias ou tubulações, recolhendo a água da sarjeta por "bocas de lobo". A forma superficial é pela sarjeta. As galerias se originam dos loteamentos mais distantes do mar e têm fluxo constante desaguando nas praias. Não há nenhuma rede de coletor misto em Xangri-lá. A coleta do esgoto cloacal, quando existente, se dá por rede específica.
A Fepam mantém monitoramento semanal sobre as condições de balneabilidade em pontos do litoral e águas internas. Além disso, o órgão fiscaliza o descarte irregular de resíduos.