Basta uma caminhada para confirmar o diz-que-me-diz: reformas e construções estão em alta no Litoral Norte. No balneário de Atlântida, em Xangri-Lá, não é preciso andar mais do que uma quadra para avistar contêineres de entulho, além de montes de areia e brita em gramados à frente de casas. A cena ilustra o aumento na população das praias na pandemia.
Agora, com a proximidade do verão, surge nova onda de otimismo para a economia local. A expectativa de empresários é de que os meses de sol e calor consolidem o recente movimento de alta em setores do comércio e de serviços. Segundo lideranças de entidades, encontrar casa ou quarto de hotel para as festas de final de ano já virou tarefa difícil no Litoral Norte.
Mesmo com o otimismo, o período de veraneio ainda não está imune a incertezas. É que, além das interrogações sobre o coronavírus, existem dúvidas a respeito da estrutura para absorver uma população que deve voltar a subir.
— Em tese, vai ter muita gente na praia. Neste ano, as pessoas devem fazer turismo mais perto de casa. Queremos que elas venham, vamos recebê-las com os cuidados necessários, mas ainda estaremos em pandemia. Então, para evitar riscos de agravamento, precisamos de ações em conjunto com o Estado — avalia Marcelo Marques, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Tramandaí e Imbé.
Segundo estimativa da Associação dos Municípios do Litoral Norte (Amlinorte), a população local subiu de 397 mil para cerca de 720 mil habitantes nos últimos meses. A projeção tem como base dados que mostram, por exemplo, aumento no consumo de energia elétrica e na produção de lixo.
Em tese, vai ter muita gente na praia. Neste ano, as pessoas devem fazer turismo mais perto de casa. Queremos que elas venham, vamos recebê-las com os cuidados necessários, mas ainda estaremos em pandemia
MARCELO MARQUES
Presidente da CDL de Tramandaí e Imbé
O salto populacional está relacionado, em parte, à possibilidade de trabalho no modelo de home office durante a pandemia. Restrições a viagens ao Exterior também levaram mais gaúchos para perto do mar local. O resultado é a maior demanda em setores como o varejo de materiais de construção.
Lojas do ramo fazem o que podem para reabastecer seus estoques, mas, ainda assim, há escassez de produtos básicos, como tijolos, telhas e cimento. Além da procura em alta, a parada de indústrias no começo da pandemia ajudou a reduzir a quantidade de itens disponíveis no mercado.
Dono da Carvalho Rede Construir, de Imbé, Rafael de Carvalho é um dos empresários que sentiram esse movimento. Em outubro, o faturamento da loja cresceu 60% na comparação com o mesmo mês de 2019, relata o proprietário. Enquanto isso, entregas de fornecedores passaram a ser postergadas:
— Em março, tivemos período em que fechamos a loja. Conseguimos retomar as atividades em abril. Nosso faturamento aumentou mês após mês.
O mercado imobiliário projeta manter o crescimento na reta final do ano. Na visão de Alexandre Prudencio, presidente da Associação das Empresas Imobiliárias e dos Corretores de Imóveis de Xangri-Lá (Associx), as perspectivas são "excelentes" para o aluguel de residências na alta temporada:
— Já estão faltando imóveis. A carteira das imobiliárias está quase lotada — diz o dirigente.
Construção em disparada, hotelaria à espera de turistas
Passado o baque inicial da crise do coronavírus, a construção civil registrou disparada nos negócios no Litoral Norte. E a procura em alta tende a seguir nos próximos meses, com a chegada do verão, relata Alfredo Pessi, vice-presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado (Sinduscon-RS). Pessi também é coordenador da entidade no Litoral Norte.
O dirigente estima que, nos meses de covid-19, a venda de casas na região chegou a se multiplicar por 10, enquanto a de apartamentos ficou oito vezes maior. Até o final de 2020, a expectativa é de que o estoque de imóveis já mobiliados seja praticamente zerado, acrescenta Pessi.
— No início da pandemia, ficamos assustados. Pensamos que não venderíamos, que seria o caos, mas depois organizamos protocolos e saímos na frente — afirma. — Pela grande demanda, não vamos conseguir atender todas as pessoas. Estamos preocupados com a qualidade do atendimento. Nosso patrão é quem vem aqui e compra um imóvel — completa.
As pessoas vão vir para a praia. A população não tem condições de sair do país com o dólar alto ou as fronteiras fechadas. Estamos preparados
IVONE FERRAZ
Presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte
Outro setor de peso para a economia local, o ramo de hotelaria e alimentação aguarda os meses de calor para ter novo alívio nos negócios. Presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte, Ivone Ferraz lembra que o segmento sofreu na largada da pandemia. Em seguida, passou a registrar melhora com o maior fluxo de pessoas na região.
Segundo Ivone, o cenário para a alta temporada é de "muito otimismo", mesmo com as restrições provocadas pelo coronavírus. De acordo com o modelo de distanciamento controlado do governo estadual, hotéis em municípios de bandeira laranja podem operar com 60% dos quartos. O percentual é maior (75%) na cor amarela e menor (40%) na vermelha.
— As pessoas vão vir para a praia. A população não tem condições de sair do país com o dólar alto ou as fronteiras fechadas. Estamos preparados — aposta a dirigente.
Leia a sequência desta reportagem: