Para se defender da invasão espanhola, os portugueses mandaram construir um forte em Torres no século 18. Posteriormente, uma segunda estrutura militar seria erguida ali, pela qual passariam Dom Pedro I, tropas legalistas e alguns dos heróis farroupilhas. Mas se você sair pela cidade perguntando onde estão essas edificações, é provável que chegue a lugar algum.
– As pessoas passam por cima e não sabem – diz o presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Leonardo Gedeon.
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Fora documentos da época, que evidenciam a existência deles, nada sobrou do Forte São Diogo, de 1777, e do Baluarte Ipiranga, que foi erguido em 1820 no mesmo local. Pesquisadores afirmam que as construções ficavam no Morro do Farol e ruíram naturalmente com o tempo. O jornalista Nelson Adams Filho, autor de livros sobre a história de Torres e a passagem de Dom Pedro pelo sul do Brasil, acredita que eles existiram na área ao lado da antiga escola cenecista. Outro membro do Centro de Estudos Históricos de Torres e Região, o observador meteorológico Bento Barcelos da Silva, defende que foi uns 150 metros abaixo, mais ao pé do morro.
A fim de encontrar balas, objetos e, quem sabe, parte da estrutura, Gedeon entende que o ideal seria realizar pesquisas arqueológicas no local – algo que nunca foi feito, segundo ele. Um projeto de lei de preservação dos bens históricos e culturais, que deve ser apresentado pelo Conselho na Câmara de Vereadores nos próximos meses, pode contribuir para isso, acredita Gedeon.
Passagens ilustres pelo local esquecido
Em seus livros, Nelson Adams Filho conta que Dom Pedro I esteve no Baluarte em dezembro de 1826, a caminho de Porto Alegre. Nas memórias do tenente-coronel Paula Soares, consta que ocorreram 101 tiros de canhão e farta recepção gastronômica à base de peixe para saudar o imperador.
Na Guerra dos Farrapos, em 1836, o Baluarte seria reativado com o coronel Onofre Pires. Mas em um ataque-relâmpago, conhecido como "a surpresa de Torres", Francisco Pinto Bandeira teria retomado o Baluarte para os legalistas.
Forte São Diogo das Torres
– A planta do Forte São Diogo foi encontrada no manuscrito Mémoires relatifs à l'expedition au Rio Grande, do general João Henrique Böhm.
– Teria sido construído com barro, terra e madeira em 1777.
– Teria três muralhas cercadas por um fosso: acredita-se que tinha 44 metros de lado.
– Guarnecia a "garganta de Torres" contra a invasão dos espanhóis, único lugar por terra em que era possível a passagem, em função do terreno pantanoso e lodoso.
Baluarte Ipiranga
– Feito em 1820 com materiais como barro, galhos, tocos e pedra.
– Não há a planta desse baluarte (estrutura avançada e reforçada), mas o Centro de Estudos o reproduziu em maquete, por meio de relatos em documentos históricos. Era chamado também de Presídio de Torres, no sentido de fortificação militar avançada.
– No livro História Torres, Nelson Adams Filho transcreve descrição do tenente-coronel Paula Soares: "Um baluarte de fachinas, revestidas de leivas, e a barbeta à maneira de cauda de andorinha e à prova de calibre 12, tirando dele duas grandes cortinas para empregar a infantaria na defesa da praça, com seus respectivos fossos. Uma cortina para a parte do oceano, onde tem apoiado seu flanco direito, e a outra para a parte da lagoa, onde se acha também apoiado o flanco esquerdo".