A decoração tem ícones da direita como o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, os ex-primeiros-ministros britânicos Winston Churchill e Margaret Thatcher e pensadores liberais como Milton Friedman e Ludwig von Mises. Do Brasil, são homenageados o ex-ministro Roberto Campos, o Barão de Mauá e o filósofo Olavo de Carvalho, entre outros.
A descrição não é da sede de um dos incontáveis institutos conservadores que surgiram Brasil afora nos últimos anos, mas de um bar. Inaugurado há duas semanas em Belo Horizonte, Minas Gerais, o Destro é assumidamente de direita, provavelmente o primeiro do Brasil com essa temática.
No cardápio, além de vários tipos de coxinhas, há pratos de nomes sugestivos como "Triplex" (ossobuco, queijo canastra e mandioca cozida), "A Lula Tá Presa" (anéis de lula) e "Saudando a Mandioca" (linguiça de porco com mandiocas cozidas). Entre os drinques há o "Vai Pra Cuba!" (mojito de maracujá) e o "Trump Wall" (à base de tequila e suco de limão).
O bar também conta com uma cerveja artesanal, a Destra. Às terças-feiras, no lugar de ofertas como "chope em dobro", comuns em botecos Brasil afora, o mote é a promoção "Imposto é Roubo", com descontos em bebidas e petiscos.
A ideia veio de quatro amigos direitistas que se conheceram na PUC de Belo Horizonte – três estudantes de Direito e um de Administração.
— Começou com uma brincadeira. A gente sempre comentava que a noite está muito chata, muito politicamente correta, e que a solução seria abrir um bar sem "mimimi" — diz um dos sócios, Guilherme Laender, 35 anos, que foi diretor de uma montadora e cuja família tem concessionárias de automóveis.
Ao lado do irmão Daniel e dos amigos José Neto e Gustavo Lopes, decidiram botar a ideia no papel em dezembro do ano passado. Em três meses, o bar estava pronto, em um imóvel no bairro Sion, zona boêmia da capital mineira.
Neste curto período de vida do Destro, não houve situações de tensão com a esquerda, fora algumas críticas via redes sociais. Mas os donos tomaram precauções: além de um segurança na porta, o bar tem câmeras, alarme e conta com uma ronda noturna que passa periodicamente pelo local.
Em noites de futebol, o local se rende ao inevitável e transmite jogos de Cruzeiro ou Atlético-MG, mas as demais TVs ficam ligadas em documentários sobre figuras da direita (sem som). Há duas semanas, o bar transmitiu as entrevistas de Olavo de Carvalho e Sergio Moro ao programa Conversa com Bial, da TV Globo.
Apesar de ser um bar com temática de direita, pessoas de esquerda também são bem-vindas, diz outro dos sócios, José Neto, 39 anos, que também é proprietário de um hostel na cidade. E se aparecer alguém com camisa de Che Guevara, ou de "Lula Livre"?
— Vai poder entrar sem problema, desde que não esteja ali para provocar e criar confusão. A gente sabe que nem todo mundo que frequenta o bar é de direita, isso seria impossível — diz.
Apesar de os quatro sócios se declararem bolsonaristas fiéis, a figura do presidente não está presente em nenhum lugar do ambiente, ao menos por enquanto. Segundo Neto, ainda é cedo.
— Vamos esperar e ver se ele vai fazer um bom governo. Se fizer, a gente coloca um quadro — diz.