
Você já saiu de casa pensando que o visual estava ótimo, mas, ao se olhar no espelho de algum trocador de loja, descobriu que, na verdade, estava horrível? Você já se irritou durante uma viagem com seu reflexo no espelho do banheiro de alguns quartos de hotel? O mesmo acontece nos banheiros de avião?
A culpa não é sua, caro leitor ou cara leitora. É da luz.
Vamos dar a esses espaços o nome que realmente merecem: câmaras que acentuam defeitos. Iluminadas para mostrar sua maior desvantagem. Não importa se você é uma supermodelo. Com uma luz ruim, você vai se parecer com a vilã de um filme de terror clássico – olheiras profundas, rugas na testa e ao redor da boca, bochechas flácidas, pele opaca e seca.
Isso não é segredo entre cineastas. Eles usam a luz para fazer com que as pessoas pareçam glamourosas ou horripilantes, dependendo da cena. "Sempre que entro em um ambiente, presto muita atenção à luz, tanto a que te faz parecer bem como a que te torna pouco atraente, com cara de bandido", explicou o cineasta dinamarquês Stephan Pehrsson, que usou técnicas de iluminação para chegar ao efeito dramático na produção da obra-prima "Os Miseráveis", da PBS e da BBC One.
Ele tem observado uma tendência ao uso de uma iluminação desfavorável em construções residenciais e comerciais modernas. "Hoje em dia, vemos muitos refletores, o que, realmente, não é bom", justificou. A iluminação indireta se popularizou, pois confere ao espaço uma aparência nítida e limpa. Por outro lado, argumentou Pehrsson, proporciona sombras acentuadas no rosto, especialmente sob os olhos, enfatizando rugas e imperfeições. Ela não é mais gentil com o corpo. As saliências, a flacidez e a barriguinha saliente são acentuadas com a sombra formada embaixo.
A fotógrafa Jennifer Graylock, cujos clientes incluem celebridades e personalidades do mundo da moda, descreveu o fenômeno da seguinte forma: "Sabe quando você coloca uma lanterna debaixo do queixo para assustar alguém? A luz sobre a cabeça funciona de maneira oposta, deixando você assustador de cima para baixo." É o caso de muitos provadores de lojas de roupas (atenção, H&M, Nordstrom e Target) e banheiros de hotel. Além disso, a luz que ilumina de cima para baixo normalmente traz uma tonalidade azul-gelo ou esverdeada que faz parecer que você precisa de cuidados médicos.
Mesmo que você não esteja se olhando no espelho de um banheiro, se estiver olhando para outras pessoas sob uma luz que as deixe lúgubres, exaustas e horríveis, você vai se sentir como elas.
ROBIN MUTO
designer de interiores
Embora muitos estudos mostrem que o ângulo, a intensidade, a cor e a qualidade da luz podem ter um efeito profundo na percepção e no humor, a iluminação continua sendo um aspecto geralmente negligenciado no design de interiores. "As pessoas simplesmente não percebem quanto a iluminação as afeta. Mesmo que você não esteja se olhando no espelho de um banheiro, se estiver olhando para outras pessoas sob uma luz que as deixe lúgubres, exaustas e horríveis, você vai se sentir como elas", esclareceu Robin Muto, designer de interiores de Rochester, Nova York.
Diante disso, qual seria a melhor luz para você e seus convidados? Ajuda se você pensar que tipo de luz dá mais prazer de olhar. Provavelmente, não é a luz branca do sol do meio-dia queimando direto na cabeça. É mais o brilho refletido de um pôr-do-sol ou de uma fogueira quente e aconchegante. Essa luz é mais suave, talvez um pouco rósea ou dourada. É difusa e nos atinge pela lateral.
Para conseguir esse efeito dentro de casa, instale luminárias de mesa com cúpula ou vidro fosco na altura dos olhos. Ou experimente uma luminária de chão, que oferece o mesmo efeito de iluminação de baixo para cima observado através dos raios de sol que sobem do horizonte enquanto o sol desce.
Se você possui uma estrutura de iluminação suspensa, encontre opções para mudar o ângulo dos refletores de maneira que a luz bata nas paredes para só depois incidir sobre as pessoas em um ângulo lateral. Outra solução eficaz são os refletores embutidos ou wall washers ("banhos de luz") – luminárias projetadas para rebater a luz para fora mais horizontal do que verticalmente. "O efeito atingido é de uma luz muito bonita, ampla e lavada, como a bruma saindo de uma lata de aerossol. Como se você estivesse borrifando luz na parede", comparou Muto.
Para conseguir o melhor resultado possível no banheiro, prefira luzes que contornem o espelho, como as encontradas nos camarins de teatros. Arandelas com cobertura posicionadas na altura da cabeça vão contribuir ainda mais para uma aparência leve e suave.
Mas talvez as melhores fontes de luz sejam aquelas que não podemos ver, disse Doreen Le May Madden, arquiteta de iluminação certificada de Belmont, em Massachusetts. Ela gosta de esconder as fontes de luz atrás de espelhos, na própria estrutura (como um teto falso ou coluna decorativa) ou ainda no rodapé. É por isso que você fica muito melhor em provadores de lojas mais exclusivas, como Neiman Marcus e Saks Quinta Avenida. "A difusão e o controle da fonte de luz são a chave tanto para parecer como para sentir-se bem", revelou Madden.
A qualidade da iluminação também é importante. Ao comprar lâmpadas, preste atenção em dois indicadores essenciais. O primeiro é a temperatura de cor correlata, ou TCC, que informa a intensidade da luz. É medida na escala Kelvin e denota a temperatura necessária para que um objeto preto (por exemplo, o carvão) emita certa cor. Você sabe que a parte mais quente da chama é a base, azul, e o topo, amarelo-alaranjado, é a mais fria? O mesmo acontece com a TCC. Quanto mais alto o valor em Kelvin, mais azul ou branca será a luz.
A tendência é que uma pessoa fique melhor quando iluminada por lâmpadas com cerca de 2.700 Kelvins. A maioria delas, seja incandescente, LED, fluorescente compacta ou halógena, recebe as seguintes denominações: "branco suave/branco quente" (2.700-3.000 Kelvins), "branco neutro" (3.500-4.100 Kelvins) ou "luz do dia" (5.000-6.500 Kelvins).
No entanto, Muto adverte que essas denominações não são padrão para todos os tipos de lâmpadas e podem variar, dependendo do fabricante. "Uma LED de 2.700 K não é igual a uma incandescente de 2.700 K", disse. Mas você consegue encontrar uma LED com TCC mais alta ou mais baixa que se aproxime da aparência de uma incandescente. Faça alguns testes, levando para casa tipos diferentes de lâmpadas, para descobrir que tipo de luz, em qual TCC e de qual fabricante satisfaz mais as suas necessidades.
A outra medida à qual se deve prestar atenção é o índice de reprodução de cor, ou IRC. Ele informa o nível de precisão com que as cores são reveladas quando iluminadas por uma fonte de luz. O valor máximo, e ideal, do IRC é 100. Madden ensina que, para a maioria dos ambientes, o melhor é não ficar muito abaixo dos 90. Do contrário, as coisas começam a ficar estranhas, como se estivessem sob a luz de segurança que inunda estacionamentos de grandes centros comerciais tarde da noite.
Interruptores com regulador de intensidade de luz são excelentes para padronizar a intensidade, ou lúmens, das lâmpadas compradas, dependendo do ambiente que você deseja criar ou da atividade em questão (o propósito é ler um livro ou receber visitas?).
Se você é do tipo que gosta de colocar a mão na massa, há diversos tutoriais no YouTube ensinando a trocar interruptores convencionais pelos com reguladores. Apenas se lembre de desligar a energia primeiro, ou você vai ficar na penumbra para sempre.
Por Kate Murphy