Estreou neste domingo (20), no Fantástico, da TV Globo, Prisão Química – Casagrande e a Luta Contra a Cocaína. O objetivo de Drauzio Varella e Walter Casagrande é mostrar, em três episódios, diferentes momentos do tratamento do ídolo de futebol e comentarista do esporte para vencer o vício em drogas.
Intercalado com o depoimento de outras personagens, Casagrande, no capítulo desta edição do programa, falou sobre como conheceu a droga, em 1982, e como chegou até a fase em que começou de fato a luta pela reabilitação. O ex-jogador foi internado pela família em uma clínica em setembro de 2007.
— Primeiro encontro com a cocaína foi em 82 mesmo, em um show do Peter Frampton. E foi maravilhoso. Você sente poderoso ou mais culto ou inteligente do que realmente é — revela Casagrande, que, em fevereiro daquele ano, aos 18 anos, estreou pelo Corinthians no campeonato de São Paulo marcando quatro gols.
Se a vida no futebol parecia apontar para uma carreira promissora, pessoalmente, Casagrande sofria a perda da irmã mais velha, que morreu prematuramente de infarto aos 23 anos. Para ele, foi um grande impacto:
— Quando conheci a cocaína, parei de sofrer pela morte dela.
Psiquiatras explicam que esse é uma das formas mais fáceis de cair no uso: a ideia de automedicação; a cocaína como um antidepressivo. A questão é que o prazer momentâneo vai diminuindo conforme o uso, explica a reportagem.
Primeiro encontro com a cocaína foi em 82 mesmo, em um show do Peter Frampton. E foi maravilhoso. Você sente poderoso ou mais culto ou inteligente do que realmente é.
WALTER CASAGRANDE
Ex-jogador de futebol
— Cheguei até a usar em véspera de jogo — revela Casagrande em outro momento do primeiro episódio.
Segundo o comentarista de futebol, o problema descambou mesmo em 1998, quatro anos depois do fim da profissão:
— Veio o vazio. O vazio da adrenalina. Não tem nada que dê a sensação de um gol.
A ficha de Casagrande teria caído quando ele teve uma overdose em 2005 na frente de um dos filhos, Leonardo, na época, com 16 anos. Entrou em convulsão no banheiro de casa, ao usar a droga de forma injetável.
— Ali eu assinei: "Sou um dependente químico compulsivo". Porque não é possível se fazer isso na frente de um filho — diz.
O casamento de 20 anos de Casagrande acabou neste momento e ele chegou a ficar internado por 40 dias, deu um tempo na droga, mas acabou recaindo.
— Comecei a ter visões e entrar em surto psicótico. Via garras na ponta do sofá — revela.
Para escapar das visões, o comentarista saiu a andar de carro. Havia misturado cocaína com calmantes e remédios para baixar a pressão. Acabou sofrendo um grave acidente de carro em setembro de 2007. Teve politraumatismo e sobreviveu, mas só restava a reabilitação, decidida pela família. Foi internado e não pode receber visitas pelos primeiros seis meses.
Drauzio ressaltou que a série não tem o objetivo de mostrar a ciência por trás das compulsões, mas a luta de usuários que caíram nas armadilhas da droga e como fizeram — ou ainda fazem — para vencer o problema.
— Dependente não é imoral nem criminoso. Dependência de cocaína não é caso de polícia, mas de saúde pública — explica o médico.
Como identificar que a pessoa não tem mais controle sobre o uso de drogas? Drauzio diz que ao responder sim a qualquer uma dessas três perguntas, é caso de dependência química: 1) você tem deixado compromissos para trás por causa da droga? 2) Seus relacionamentos são prejudicados pelo uso? 3) Sua rotina diária gira em torno da cocaína?
O próximo episódio, no domingo do dia 27, deve ser sobre o desafio da reabilitação.