
Impossível fazer um convite à dona de casa Nilza Nunes, 81 anos, de Canoas, para uma tarde de quarta-feira. A sua agenda deste dia, entre 14h e 18h, já tem reserva irrevogável: a voluntária mais antiga ainda em atividade na Legião da Boa Vontade (LBV), em Porto Alegre, dedica-se à entidade de assistência social.
Há 30 anos, a rotina da senhora sempre disposta a repassar uma mensagem positiva ao próximo ganhou novo sentido. Na época, ela e o marido, o metalúrgico aposentado Rosalino Severo Nunes, 82 anos, foram convidados por amigos a fazer parte da equipe que distribuía sopa nas vilas carentes da Capital. E o que era para ser apenas uma atividade extra tornou-se propósito de vida. Hoje, ela ensina pintura em tecido, bordado e colagens a mulheres.
– Ajudar a família é um dever, mas estender a mão a um desconhecido é gratificante. Vi que os meus problemas eram nada perto dos de outras tantas pessoas. Passei a me sentir útil ao próximo – explica Nilza.
Ela faz parte dos 11% de brasileiros que participam ativamente de trabalhos voluntários no país, segundo a pesquisa Opinião do Brasileiro sobre o Voluntariado, da Fundação Itaú Social em parceria com o Datafolha, que entrevistou 2.024 pessoas de 135 municípios do Brasil, em 2014. A falta de tempo e a dificuldade de encontrar informações são as principais justificativas para o ainda pequeno número de voluntários.

Nilza levou anos até escolher a LBV para ser voluntária. Primeiro, foi preciso conhecer o trabalho da entidade e achar espaço nas horas do casal:
– Fico a semana esperando pela quarta. Minha alma se revigora. Estou ajudando não para me sentir melhor, mas porque vejo que tem alguém precisando do meu carinho.
Impulso para recomeçar

A arquiteta Camila D'agostin, 39 anos, de Porto Alegre, encontrou no voluntariado uma forma de recomeçar depois de sofrer um sequestro-relâmpago no ano passado.
– Os assaltantes eram muito jovens. Pensei como poderia ajudar a diminuir a violência. Então, decidi que me tornaria voluntária em projetos sociais que atendessem crianças carentes – conta.
Em outubro de 2016, Camila fez o curso do Programa Sesc de Voluntariado. Desde maio, trabalha uma vez por semana no brechó comunitário do Centro Diaconal Evangélico Luterano, que atende crianças em situação de vulnerabilidade social.

Por gostar tanto da experiência, Camila está começando a atuar diretamente com os pequenos da instituição, seja na horta comunitária ou na hora das brincadeiras. Na semana, ela ainda encontra espaço para visitar crianças internadas num hospital da cidade.
O entusiasmo da arquiteta contagiou familiares, que viraram voluntários também.
– Parei de reclamar e de ter dores. A vida é uma maravilha e, se cada um estender a mão aos que precisam, ela pode ser ainda melhor – garante, convicta, Camila.
O que diz a pesquisa
/// O desejo de ajudar o próximo é a principal motivação para os brasileiros se tornarem voluntários. Entre as pessoas que já participaram alguma vez de uma atividade voluntária, 55% declaram ter sido por solidariedade e 17% pela satisfação pessoal. Os dados são da pesquisa Opinião do brasileiro sobre o voluntariado, da Fundação Itaú Social em parceria com o Datafolha.
/// Entre o público que nunca atuou como voluntário, a disposição em ajudar também aparece como maior motivador para engajamentos futuros, com 38% por solidariedade e 5% por satisfação pessoal. Neste recorte, destacam-se ainda a atuação condicionada à realização de uma atividade específica (12%) e à maior disponibilidade de tempo (6%).
/// Em relação ao tipo de atividade, as ações de saúde estão em primeiro lugar, com 31% da preferência dos brasileiros. Em seguida surgem educação (24%), doação de sangue (22%), proteção animal (22%) e atividades esportivas (20%).
/// O estudo demonstra, entretanto, que o brasileiro ainda tem pouco envolvimento com ações sociais. De acordo com a pesquisa, apenas 28% da população declara já ter participado de atividade voluntária e destes, somente 11% permanecem atuando. A falta de tempo e a dificuldade de encontrar informações são as principais justificativas.
Como ser um voluntário
/// O Programa de Voluntariado Avesol/PUC-RS recebe inscrições, no link bit.ly/2xprOTH, até 1º de setembro. Podem participar alunos, professores, técnicos administrativos e diplomados da PUC-RS.
/// No dia 9 do mesmo mês, ocorre o encontro de apresentação do projeto. Na ocasião, serão apresentadas as instituições onde os voluntários podem atuar, a documentação necessária e o processo do voluntariado no geral.
/// A ida ao encontro é obrigatória. Será na sala 601 do prédio 40 do Campus (Avenida Ipiranga, 6.681), das 14h às 16h15min. O programa é promovido pelo Centro de Pastoral e Solidariedade da PUC-RS. Informações pelo telefone (51) 3320-3576.
/// A ong Parceiros Voluntários recebe interessados. Todos os voluntários passam por uma Reunião de Conscientização gratuita para qualificar esse voluntário. Informações em parceirosvoluntarios.org.br.
/// O Programa Sesc de Voluntariado oferece curso com carga horária de 20h, com prática e visita de vivência prática de trabalho voluntário. Ao final da capacitação, após a entrevista individual, o aluno é encaminhado à entidade social onde deseja desenvolver seu trabalho voluntário. Mais informações pelo telefone (51) 3224-0538 e pelo site www.sesc-rs.com.br/acaosocial/voluntariado.php.
/// A Legião da Boa Vontade (LBV) aceita novos voluntários para diferentes atividades. Mais informações no site www.lbv.org.