Meninas dançam com mudas de videira no colo. A cena é capaz de sintetizar todo o espírito de celebração da Festa da Uva, ou pelo menos aquele que pulsa no coração de uma das homenageadas do corso desta edição. Em outras festas, Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro buscou pessoalmente as plantas na propriedade dos primos, em Nova Milano, para fazer parte do já tradicional momento em que as videiras encontram o público no desfile.
Durante o primeiro desfile da Festa da Uva 2016, na quinta à noite, a pesquisadora viu a capa de seu icônico livro Festa & Identidade ampliada no carro em que ela desfilaria ao lado do escritor José Clemente Pozenato, também homenageado.
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Ali, estava a foto (de autoria de Aldo Toniazzo) das meninas que dançam com mudas de videira no colo, num desfile do passado.
- No percurso, eu mostrava aquela foto. Quando me dei conta, estava inclinada, apontando para a foto. Como é bonito estar numa festa em que se dança com pés de videira no colo. Num dos momentos, começaram a tocar "Da l´Italia noi siamo partiti" (cantando) e eu convidei a todos para que cantassem junto... e apontava para a foto (na capa ampliada do livro), como se dissesse "escrevi isso para vocês" - conta Cleodes, emocionada.
A ideia do roteirista Nivaldo Pereira para a cena de número 20 do desfile cênico-musical deste ano foi lembrar dos principais intelectuais e pensadores que ajudaram a decodificar a cultura italiana e a própria Festa ao público. A iniciativa proporcionou que Cleodes, envolvida desde sempre com a festa e descendente de um dos três primeiros imigrantes italianos que chegaram a Nova Milano em 1875, desfilasse pela primeira vez no corso.
- Celebrar a festa de um modo coletivo, me colocando como uma referência, isso foi muito emocionante. A festa, para mim, é um permanente feixe de emoções - diz ela.
Se de um lado do carro estava a emocionada Cleodes convidando o público a mirar a foto das meninas dançando com as mudas de videiras, do outro lado estava o escritor José Clemente Pozenato, bem pertinho de uma enorme reprodução do troféu Oscar. É que, além de ter ressignificado a cultura dos imigrantes italianos em praticamente toda sua literatura, o autor também está comemorando em 2016 os 20 anos da indicação do filme O Quatrilho ao Oscar de Filme Estrangeiro. O longa é baseado no livro homônimo de sua autoria, lançado em 1985 - que integra a trilogia com A Cocanha e A Babilônia.
- Não veio o Oscar em Los Angeles, mas veio na Festa da Uva - brincou o escritor, que havia desfilado também em 1996, mesmo ano que o filme concorreu e, coincidentemente, mesmo ano em a foto das meninas com as mudas de videiras foi clicada.
Nem a conhecida timidez de Pozenato foi capaz de nublar sua visível euforia em cima do carro:
- Me emocionei com a receptividade do povo que estava presente, da gente que queria nos olhar nos olhos. Embora eu lide com palavras, é difícil de descrever.
A homenagem aos propagadores da cultura integrará todos os desfiles, mas Cleodes e Pozenato só voltam a subir no carro no último corso, marcado para o dia 6 de março. Até lá, será possível encontrar os dois pela Plácido de Castro, porém, como espectadores a conferir de que forma o desfile deste ano está contando aquela história que eles ajudaram a escrever.
Em Caxias
Cleodes Piazza e José Clemente Pozenato contam sobre homenagem da Festa da Uva
Dupla desfilou na quinta-feira e deve voltar ao corso cênico musical no dia 6 de março
Siliane Vieira
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