REGENSBURG, Alemanha – A princesa Gloria von Thurn und Taxis caminhava por seu palácio alemão de 500 quartos com as chaves na mão, uma pulseira de rubis e um pingente da Virgem Maria no pulso.
Ela parou para admirar a capela ornamentada onde morreu a princesa Helene, bisavó de seu marido, e onde seu amigo, Bento XVI, o papa emérito, rezou uma vez a missa.
Então ela se dirigiu para o claustro medieval, onde prefere fazer suas orações diárias.
Na capela da cripta, a princesa tagarela e exuberante ficou em silêncio, tirou os óculos de lentes cor-de-rosa, ajoelhou-se com sua calça da Comme des Garçons no genuflexório estofado e pressionou solenemente a testa contra os dedos entrelaçados.
A luz colorida entrava pelas seis janelas de vidro e iluminava a jaqueta Yves Saint Laurent da mulher de 58 anos, enquanto monsenhor Wilhelm Imkamp, um prelado conservador que já foi cogitado entre a ala conservadora como potencial arcebispo de Berlim, oferecia a comunhão à sua solitária paróquia.
Os sapatos Hermès da princesa – brancos como o altar de mármore de Carrara – estavam diante da cripta onde o marido e os antepassados de sua nobre família jaziam em caixões polidos.
"Amém", disse ela.
Gloria – que já foi batizada de "a princesa TNT" por causa de seus anos explosivos de muita festa, sua coleção de arte e seu cabelo punk – tornou-se o centro em torno do qual muitos católicos tradicionalistas se opõem à órbita do papa Francisco. Seu castelo em Regensburg é uma "escola de gladiadores" em potencial para os católicos conservadores em uma cruzada para preservar as tradições da igreja.
Seu palácio romano, com vista para o antigo fórum, é o local preferido dos cardeais da oposição, os bispos rancorosos e populistas como Stephen Bannon. Muitos deles esperam usar a crise dos abusos sexuais, que é tida como a maior ameaça existencial à igreja em séculos, para derrubar o pontífice de 81 anos de idade, que acreditam estar destruindo a fé.
Gloria, que é próxima de Hillary Clinton, do antigo editor da "Vogue", André Leon Talley, e de celebridades como Quincy Jones, rejeitou qualquer sugestão de que estivesse liderando uma sociedade secreta fora de seu palácio, que ela disse ser uma casa aberta onde os visitantes podem encontrar "um travesti ou uma freira".
Ela disse que achava que o papa estava "tentando seu melhor", mas acrescentou, com uma risada, que ele "não toca meus hits favoritos primeiro".
A princesa argumentou que, em vez da ênfase do papa na inclusão, a Igreja precisava honrar suas leis e doutrinas e submeter-se a uma conversão espiritual, como teria ocorrido com ela há quase 30 anos, quando seu marido morreu e ela adquiriu uma crença mais missionária e ortodoxa.
"Precisamos lutar pela Igreja", disse ela, acrescentando que Bento incutiu nela o desejo de "lutar pela fé – não só para salvar a tradição, a fé, mas também para cumprir seus deveres".
A princesa entende que é sua responsabilidade alimentar centenas de pessoas famintas todos os dias e dar apoio a padres cada vez mais isolados. Mas alguns dos sacerdotes em sua corte responderam ao chamado do dever indo à guerra.
Em agosto, o arcebispo Carlo Maria Viganò publicou uma carta que acusa Francisco de encobrir abusos. Suas acusações até agora se provaram injustificadas, mas Gloria o chamou de "denunciante".
Ela se lembrou de uma "conversa fabulosa" que teve com ele durante o verão em um jantar na residência romana do cardeal James Harvey, um americano e companheiro conservador.
O jantar foi patrocinado pelo Instituto Napa, um grupo católico americano rico e conservador gerido por Timothy Busch, que faz parte do conselho dos meios de comunicação católicos conservadores, responsável por publicar a carta de Viganò. Ela disse que não conversou com Viganò sobre sua carta polêmica, mas esperava que fosse "um alerta para a igreja".
Mais tarde naquele mês, Viganò enviou uma carta a seu amigo cardeal Raymond Burke, o líder americano da resistência anti-Francisco, lamentando não poder comparecer à festa de aniversário do cardeal na Toscana.
O motivo, explicou Gloria, era que ele estava escondido.
"Ele tinha uma boa desculpa", disse ela.
Mesmo assim, foi uma pena, porque a festa foi ótima. Burke – tão próximo da princesa, ela disse, como um "padre da família" – comeu bolo de aniversário em forma de chapéu de cardeal vermelho, e, com uma taça de champanhe numa mão enquanto abençoava os seminaristas com a outra, viu aos fogos de artifício iluminarem o céu em sua homenagem.
"As pessoas de bem sabem como festejar", disse ela com uma risada, acrescentando que Burke merecia "porque ele tem sido muito perseguido".
Vários dos amigos íntimos de Gloria passaram por maus bocados com Francisco. No ano passado, o papa demitiu Gerhard Ludwig Müller, o cardeal e crítico alemão que era o cão de guarda doutrinário da Igreja. Em seu palácio de Roma, ela apresentou o cardeal a Bannon, que posteriormente convidou o alemão para sua sede em Washington, mais conhecida como Embaixada Breitbart.
Bannon, que se tornou próximo de Burke, vê o papa como uma força destrutiva na Igreja.
Ele prevê uma escola de gladiadores para o treinamento teológico e midiático dos católicos de direita, hostis a Francisco. E tentou persuadir a princesa a investir em um mosteiro na cidade de Trisulti, a quase duas horas de Roma, que é operado pelo Dignitatis Humanae Institute, um grupo antiaborto dirigido por seu amigo Benjamin Harnwell. Burke é o presidente do conselho consultivo.
Em uma entrevista recente, Bannon disse que sentiu um ponto de inflexão para uma igreja sitiada pela crise e que seu plano era usar o castelo de Gloria em Regensburg para uma escola de verão, enquanto outros proeminentes doadores católicos financiariam o projeto de Trisulti.
Gloria disse que recebeu as contribuições de Bannon para o movimento ortodoxo e o achou um excelente comunicador, estrategista político e "um cara tipo Hollywood".
Mas ela deixou claro que não estava assinando nenhum cheque.
"Todos nós queremos grandes coisas, mas quem vai pagar por isso?" – perguntou retoricamente Gloria, que usava um colar de pérolas enormes.
Ela ridicularizou a possibilidade de investir US$ 100 milhões para transformar o mosteiro (onde ficou horrorizada ao encontrar uma colônia de morcegos) numa escola.
"Às vezes os homens são sonhadores e nós mulheres somos mais práticas", disse ela. "Foi por isso que eu disse: 'Ótima ideia, mas um passo de cada vez.'"
Apesar de ter sido criada como católica que passava os verões com sua tia-avó, uma freira beneditina, na Floresta Negra, durante a juventude ela não encarava com seriedade a religião. Aos 19 anos, a jovem aristocrata conheceu o 11º Príncipe de Thurn und Taxis, Johannes, que tinha 53 anos de idade, antes de um show do Supertramp em Munique.
Em 1980, casou-se com ele, um nobre excêntrico e bissexual, cuja família fez fortuna com o serviço postal do Sacro Império Romano. Ela então se tornou a "It Girl" imperial dos anos 80, sempre indo a festas e bares com Mick Jagger, Andy Warhol (ele "ia à igreja todos os dias", diz ela) e realmente qualquer celebridade da época que você possa imaginar.
Em 1990, seu marido morreu, deixando-a como uma jovem viúva e mãe de três filhos, com centenas de milhões de dólares em dívidas. Ela foi estudar administração, fez do palácio ancestral um bem público e leiloou prataria, joias, vinhos e algumas obras de arte que colecionava, salvando a fortuna da família.
Ela credita essa virada à "graça de Deus", que a convenceu de que "tinha de retribuir". Tornou-se mais devota e se aproximou do clero, incluindo Joseph Ratzinger, que seria o futuro papa Bento XVI.
Segundo Gloria, se uma universidade local tivesse de pagar a conta, seu palácio teria salas de aula muito melhores para uma escola de gladiadores do que um mosteiro frio fora de Roma.
"Veja, aqui há muito espaço para montar uma escola. E ainda é aquecido!", ela completou.
Por Jason Horowitz