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Com menos mecanismos de sensação de sede, idosos – principalmente acima dos 75 anos – ingerem uma quantidade menor de água e apresentam maior tendência à desidratação, segundo especialistas.
Em meio ao forte calor do verão, é importante redobrar os cuidados com o consumo de água nessa faixa etária, já que a desidratação pode desencadear até mesmo uma internação hospitalar ou situações mais graves. Quanto mais idoso, maior deve ser a atenção e o monitoramento.
— No processo de envelhecimento, vai diminuindo esse gatilho para tomar água, então, eles têm menos sensação de sede — explica Roberta Rigo Dalla Corte, chefe da Unidade de Geriatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
A mudança resulta da diminuição da sensibilidade dos receptores do hipotálamo (no sistema nervoso central) aos parâmetros que desencadeiam e ativam a sede. Além disso, embora a secreção de hormônio antidiurético seja aumentada nos idosos, a resposta desse hormônio à desidratação é reduzida ou ineficaz, mesmo quando há necessidade de reter água, como nos casos de desidratação, explica a médica.
Pessoas dessa faixa etária também possuem menos água corporal do que os mais jovens – em alguns casos, menos da metade. Por esses motivos, os idosos desidratam rapidamente – mais do que crianças.
Além disso, há causas comportamentais e sociais: alguns idosos ingerem menos água devido à incontinência urinária. Em muitos casos, há, ainda, problemas de mobilidade, que dificultam o acesso.
Alguns medicamentos são um fator de risco para a desidratação, como os diuréticos utilizados, por exemplo, para o tratamento da hipertensão arterial.
— Se isso acontece em dias com umidade muito baixa do ar e extremos de temperatura, então, acumula essa perda normal do próprio diurético, e, ainda, a evaporação da água pelo suor, isso vai levar a uma desidratação — aponta Roberta.
Doenças neurodegenerativas também fazem os idosos esquecerem de beber água, acrescenta Maria Cristina Berleze, geriatra do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Sinais e sintomas
Mesmo desidratado, o idoso não sente sede. Conforme as geriatras, os sinais e sintomas incluem dor de cabeça, tontura, pressão baixa, fraqueza, urina concentrada, agitação e maior sonolência do que o habitual – que os familiares atribuem, muitas vezes, ao calor excessivo.
— São sintomas bem inespecíficos, e as pessoas não identificam. Acontece que a pessoa idosa pode cair por causa disso, fraturar o fêmur ou ter um traumatismo cranioencefálico — alerta Roberta.
Pouca responsividade e uma piora geral do estado de saúde também podem ser sinais de desidratação, alerta Maria Cristina. Quando os idosos já não conseguem mais ingerir água, as famílias acabam recorrendo ao hospital. A médica do São Lucas ressalta que não se deve esperar que isso aconteça: é preciso oferecer líquido sempre, de maneira regular, de modo a evitar também outros riscos nos hospitais.
— Não devemos esperar esses sintomas para buscar a estratégia de hidratar bem os nossos idosos — frisa.
Em casos moderados a graves de desidratação, o paciente pode apresentar confusão mental ou agravo de quadros já existentes. Se houver piora em relação ao estado mental normal e sonolência, deve-se procurar uma unidade de saúde, pois são sintomas de alerta, informa Roberta.
Os perigos da desidratação
A desidratação aguda dispara o coração e diminui a função do rim devido à menor quantidade de água para filtrar, resultando em urina mais concentrada e escura. O quadro também afeta o bom funcionamento cerebral e, quando há outras condições de saúde, gera o risco de eventos vasculares.
Cronicamente, o paciente terá um rim menos estimulado, o que pode resultar, posteriormente, em insuficiência renal.
Roberta Rigo Dalla Corte observa que os pacientes mantêm um comportamento tênue a longo prazo. Porém, em casos de ondas de calor como as registradas nos últimos dias no Rio Grande do Sul, acabam se desidratando ainda mais, de forma aguda. O quadro pode resultar em hospitalização e até mesmo na perda de função do rim.
Os benefícios da ingestão adequada de água, por outro lado, são inúmeros, como bem-estar, manutenção da pressão arterial mais normalizada, melhora do funcionamento do intestino e do rim, pele menos ressecada e mais hidratada e diminuição de problemas relacionados aos sais.
Quanto beber por dia?
A recomendação diária de ingestão de água para os idosos é de cerca de 30 ml/kg, se não houver restrição médica. O valor mínimo é de 1,5L por dia, conforme as especialistas. A água deve ser de boa procedência, evitando o uso de água da torneira não filtrada ou fervida.
Alguns idosos relatam que a água “tem gosto ruim” ou “de remédio”. Isso ocorre porque as papilas gustativas mudam com o envelhecimento. A água pura é mais efetiva na reabsorção renal, porém, caso haja dificuldades, há alternativas e dicas para aumentar a absorção de água de forma indireta, como Roberta explica no vídeo (confira acima).
Maria Cristina recomenda utilizar no mínimo três garrafas de meio litro, enumeradas e refrigeradas, para ter certeza da ingestão, já que alguns idosos podem esquecer se já beberam. A orientação é ingerir em um volume que seja perceptível, independente da sede.
Em situações mais graves, em que são necessários volumes maiores de hidratação, pode-se recorrer a soluções de reposição oral, complementa a médica do São Lucas. A especialista também recomenda permanecer em ambientes refrigerados, bem ventilados e com sombra, evitar saídas no sol das 10h às 15h e utilizar proteção solar e chapéu – medidas que reduzem a perda de água no organismo.
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