Um colaborador de um zoológico gaúcho me contou, faz alguns anos, uma história espetacular. Certo dia, houve uma fuga de macacos. Depois de observar várias vezes como o tratador desligava os mecanismos de segurança e abria o portãozinho da jaula, o líder do bando fez o mesmo. Esticou o braço peludo entre as grades, cortou a energia elétrica, abriu a porta e, aos gritos, conduziu o bando, eufórico, rumo à mata fechada. Só que, algumas horas depois, um a um, todos começaram, espontaneamente, a voltar. Foram chegando, devagarinho, e se acomodando nas imediações do cativeiro. Estavam com fome, mas não sabiam como se alimentar sem a ajuda de um ser humano. Assim, foram recolocados no recinto de onde escaparam, ao mesmo tempo que a chave que desligava os mecanismos de proteção foi mudada de lugar, para longe do alcance de qualquer símio que ousasse desafiar o sistema.
Liberdade, assim como independência, não são um fim, mas um processo constante. Não são um presente ou caem do céu da noite para o dia, embora as promessas sejam tentadoras e aparentemente fáceis de entregar. “Eu abro a jaula e pronto...”. Só que não.
A Bíblia nos oferece uma baita reflexão sobre o sentido mais profundo desse caminho. Moisés perambula 40 anos com os hebreus pelo deserto depois do êxodo do Egito. Certamente, seria bem mais aplaudido naquele momento se tomasse a linha reta até a Terra Prometida. Afinal, o faraó havia sido derrotado e seu poderoso exército engolido pelo mar. Mas Moisés entendeu que a geração de escravos precisaria dar lugar a uma outra, que já nasceu livre, para que um modelo de sociedade saudável funcionasse. Foi demorado e difícil. Tanto, que o próprio Moisés não entrou na Terra Prometida. Mas conduziu seu povo até lá.
Também o conceito de independência, tão celebrado por nós nos últimos dias, se vê desafiado quando, no século 21, nossa produção industrial patina pela falta de minúsculos chips que vêm da China, e empresas sofrem com a escassez de insumos parados em portos e aeroportos de outros países durante a pandemia. Dependência, ou morte. Dependemos, sempre, uns dos outros. É isso que nos permite exercer nossa inegociável liberdade individual.
A estas alturas, você já deve saber sobre o que estou falando. Não é sobre desânimo ou descrença. Ao contrário. Mas quando assisto ao horário eleitoral ou leio as entrevistas dos candidatos, com suas soluções mágicas e imediatas, sempre penso em duas coisas. Deserto. E bananas.