Dois astrônomos brasileiros, o gaúcho Luciano Fraga e o catarinense Roberto Saito, participaram de uma pesquisa que vem chamando a atenção da comunidade científica mundo afora. Com a ajuda do telescópio SOAR, localizado no Chile, foi possível desvendar parte do mistério ligado a um fenômeno extremamente raro no centro da Via Láctea: uma estrela gigante, menos densa e cerca de cem vez maior do que Sol, perdeu 97% do seu brilho por cerca de duzentos dias e, depois, voltou ao seu padrão original.
As hipóteses que tentam descrever este fenômeno, que vão de alguma característica própria do corpo celeste a um eclipse gerado por uma nuvem gigante de poeira, foram publicadas recentemente pela revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society , uma das mais importantes do mundo nessa área. (o artigo, em inglês)
O telescópio SOAR é um investimento transnacional, que tem o Brasil como um dos seus principais financiadores, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Nesse caso, o equipamento foi usado como ferramenta de um projeto mais amplo, que busca objetos de comportamento variável no espaço e que recebeu o sugestivo nome de WIT (sigla para What Is This?, “o que é isso?”, em inglês).
De acordo com os pesquisadores, compreender como e porque essa estrela se comportou dessa forma pode ser uma janela para projetar, por exemplo, como será o Sol daqui a bilhões de anos. “Cada peça do quebra-cabeças é importante, mesmo que a gente não saiba ainda qual será a figura final”, explicam Luciano e Roberto, que foram colegas desde a graduação até o doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina. Hoje, Roberto é professor nesta mesma universidade. Luciano é pesquisador no Laboratório Nacional de Astrofísica, que gerencia, no Brasil, as operações do telescópio SOAR.