O príncipe Jajá pegou a bola na intermediária de ataque e enfiou o pé na bola, que viajou uns 30 metros e encobriu Leão. Foi tão inesperado, que dei um salto com toda a impulsão das minhas pernas adolescentes. Quando caí sentado na cadeira, vi meu pai, que estava ao lado, se contorcendo de dor. Pensei logo em ataque cardíaco. Por alguns instantes, o rugido do Beira-Rio virou silêncio. Meu pai, ali, desconfortável, gemendo e com a mão no que parecia ser o próprio peito.
– Pai, o que houve? Pai? – consegui perguntar.
Não sei exatamente quando tempo se passou. Pareceu uma eternidade. Eu nem vi a comemoração do Jair e muito menos ouvi o comentário que sempre vinha pelo radinho de pilha, encostado na orelha e sintonizado na Gaúcha. Eu já olhava para os lados pensando em pedir ajuda. Via todos ao redor se abraçando e vibrando enquanto meu mundo congelava.
– Pai?
Foi então que, finalmente, ele conseguiu falar. Abriu um sorriso possível e com a voz meio esganiçada quase gritou:
– Tu caiu de cotovelo no meu ombro!
Repassei a cena e me dei conta. Eu era jogador de vôlei na época, realmente saltava muito. Quando aterrissei de volta na cadeira, ao recolher os braços estendidos na comemoração, dei em cheio na clavícula dele, que estava embaixo. Nem senti. Mas ele sim.
Foram alguns dias de dor, da qual ele fazia questão de me atualizar. Existem alguns sofrimentos que se tornam insignificantes diante da grandeza de uma vitória no Gre-Nal, que acabou 1 a 0 para nós. De minha parte, nunca torci tanto para que o Grêmio não empatasse nem virasse o jogo. Talvez, aí, a dor realmente começasse a incomodar.