O Facebook é a energia atômica da comunicação. Nasceu inspirado por boas intenções, mas se transformou em arma. A diferença é que os cientistas que desenvolveram a energia nuclear se chocaram depois com o uso dado à sua descoberta. Já o Facebook e o Google decidiram surfar na onda e aumentar o potencial de dano da sua munição.
Agora, algumas das maiores empresas do mundo anunciam que não investirão mais em publicidade na plataforma de Mark Zuckerberg e nas outras redes sociais. O motivo: a falta de vontade e de eficiência no combate ao discurso de ódio, ao qual as marcas acabam associadas.
Facebook e Google não são honestas nas suas essências. Se apresentam como fornecedoras e organizadoras de conteúdo, mas seu verdadeiro negócio é extrair, analisar, sistematizar e vender informações dos usuários. O livro The Age of Surveillance Capitalism (A era do capitalismo de vigilância), de Shoshana Zuboff, conta bem essa história. As empresas que agora anunciam repúdio aos efeitos desse método sempre souberam disso.
O súbito movimento de adesão da Coca-Cola, da Unilever, da Starbucks e de outras gigantes à campanha "Pare de usar o ódio para lucrar" acontece agora por um único motivo: seus consumidores começam a dar sinais claros de que cansaram desse faz-de-conta – tanto o do Facebook, que publica conteúdos criminosos mas não se acha responsável por eles, quanto o das marcas, que trocam ética por uma suposta eficiência comercial que já começa a fazer água.
A eleição americana de outubro e as manifestações contra o racismo impulsionaram essa tomada repentina e coletiva de consciência empresarial. Mas podem ter certeza: esse movimento positivo de combate ao ódio não nasceu nos departamentos de marketing, mas sim nos consumidores. Essa é uma das boas notícias desses confusos tempos de pandemia.