Houve um tempo em que o palavra Brasil abria portas mundo afora. Você dizia de onde era, em qualquer idioma, e ouvia de volta “Pelé”, “Carnaval” e “Rio de Janeiro”. Explicar onde ficava Porto Alegre, em geral, era o começo de uma conversa amistosa e pontuada por sorrisos. Nosso futebol já não encanta mais há algum tempo, não é culpa do governo. Mas o fato que é hoje, quando a gente diz Brasil para um estrangeiro, a primeira coisa que ele pergunta é sobre a situação política e os devaneios do nosso presidente.
Jair Bolsonaro demonstra, legitimamente, preocupação com a economia. Foi um dos primeiros a afirmar a importância da relação entre emprego e saúde, apesar de fazê-lo de uma forma conflituosa e autoritária. Ao se comportar do jeito que se comporta, desafiando a Organização Mundial da Saúde, prescrevendo cloroquina e demitindo ministros da Saúde em série, o presidente gera um dano à marca Brasil, essa espécie de embalagem de atributos – positivos e negativos – que acompanha todos os produtos e serviços que o país oferece ao mundo.
Esse é um prejuízo pouco comentado, mas de grande relevância. Nossa economia perde competitividade externa na concorrência com outras marcas nacionais mais bem posicionadas. Jair Bolsonaro, eleito democraticamente nas urnas, tem direito e legitimidade para criticar quem quiser e defender as ideias que lhe pareçam corretas. O dano está na forma como isso é feito, tratando o diferente como inimigo e o adversário como satanás.
Hoje, um consumidor que para em frente a um produto “made in Brazil” não pensa mais na alegria de um gol bonito, em uma praia ensolarada ou em um povo plural e acolhedor. Também não pensa em um foguete decolando rumo ao crescimento econômico e à criação de oportunidades para aumentar a geração de riqueza e bem-estar. Nem na qualidade da nossa indústria ou na pujança do nosso agronegócio, motivos de orgulho para todos nós. Hoje, o conflito, o destempero e uma das mais extensas listas de mortos do mundo se afirmam como alguns de nossos principais produtos de exportação. Isso se traduz na perda de bilhões de dólares e, na lógica do próprio governo, em menos vida.