A trincheira da Ceará se transformou em um símbolo da incompetência de sucessivos governos. O buraco de 320 metros de extensão, que há mais de sete anos vem sendo construído, reflete um traço cultural abominável da gestão pública nacional: projetos mal feitos que geram custos absurdos e demoras injustificáveis. Não é por acaso. Aditivos contratuais são soluções convenientes para quase todas as partes envolvidas, menos para quem, de fato, paga a conta.
Nesse contexto, faz bem o prefeito ao inverter uma lógica demagógica e irresponsável: inaugurar obras antes de elas estarem 100% prontas. Ouvi Nelson Marchezan na Rádio Gaúcha, alguns dias atrás. Ele garantiu que só cortará a fita quando todos os detalhes estiverem prontos. É uma atitude louvável.
Para que o gesto do prefeito fique completo, só falta um detalhe: abrir o trecho ao público sem fazer festa. Não há motivos para celebração. Aliás, se existe algum sentimento legítimo em relação à trincheira da Ceará, é vergonha. Uma obra mal planejada, mal feita, atrasada e cara não merece qualquer tipo de aplauso. Então, quando tudo estiver terminado, abra-se o asfalto aos carros, sem alarde. Talvez assim, se tudo funcionar, essa monstruosidade gerada pelo descaso e pela falsa esperteza pague, pelo menos em parte, o prejuízo que já causou à cidade.