
A língua portuguesa ganhou um novo palavrão: AI-5. Tire as crianças da sala. Agora, quem se ajoelha no milho é o ministro Paulo Guedes. Ele foi claro, mas muita gente faz de conta que não entendeu. Guedes evocou o AI-5, remedo autoritário à Constituição, para criticar Lula. Depois de sair da cadeia, o ex-presidente escorregou no discurso revolucionário, acendendo fósforos onde sabe existir gasolina. E muita.
O ministro fez uma leitura perfeita da dinâmica que vem tensionando progressivamente o Brasil, com alguns intervalos, desde a década de 60. Em outubro, um dos filhos destrambelhados de Bolsonaro soltou a língua na hora errada, ameaçando com um novo AI-5 “se a esquerda radicalizar”. Pulou no vazio. Agora, Paulo Guedes acertou na mosca.
Declarações como as de Lula são perigosas. Mas Guedes não defendeu nem elogiou o AI-5. Ao contrário. O que ele disse, com razão, é que uma radicalização inspira a outra. Sutilmente, criticou tanto Lula quanto Eduardo Bolsonaro, dois expoentes desse debate insano.
O ministro deve, a essa hora, estar arrependido do estrondoso acerto.