Na defesa de seu pacote do funcionalismo, o governador Eduardo Leite apresenta um ponto fundamental. O Rio Grande do Sul precisa voltar a ser atraente aos olhos dos investidores. Perdemos essa condição por culpa nossa, entorpecidos pelo mito de que só sabemos ser bipolares: chimangos ou maragatos, colorados ou gremistas, petistas ou bolsonaristas. Levamos o estereótipo tão a sério que ele se apoderou da nossa alma. A tal ponto que equilíbrio e suavidade se transformaram, nas bandas de cá, em sinônimos de fraqueza.
Durante a sua entrevista hoje, no Jornal do Almoço, o governador ofereceu essa chance de pensar de fora para dentro. Os investidores buscam segurança e regras claras. Uma boa oportunidade para refletir sobre algumas decisões do próprio governo. O imbróglio do Cais Mauá, por exemplo. Em vez de acordo, a Procuradoria-Geral do Estado optou pelo conflito. Qual investidor colocaria dinheiro em um projeto cujo destino depende de um processo judicial que deve ser arrastar por anos?
Mas o governador apresenta um argumento polpudo. Chegamos a um ponto em que o remédio só pode ser amargo. Não se justifica mais tamanha diferença entre as regras do serviço público e as da iniciativa privada. Além de estabilidade, uma fatia privilegiada do funcionalismo se beneficia de uma série de penduricalhos típicos de um mundo paralelo e exótico.
Por isso, a tentativa de corrigir rumos é válida e necessária, desde que o Piratini jamais perca de vista que os seus servidores são parte da solução, e não o problema. Aliás, nenhum deles tem culpa pelas deformações das quais se beneficiam. Quando decidiram fazer concurso, as regras já estavam postas. E as inventadas depois foram propostas e aprovadas pela Assembleia e pelo próprio governo, ocupado sucessivamente por militantes de partidos diferentes.
Pelo que se vê, as alternativas para manter os sinais vitais mínimos estão se esgotando.
A conta já vem sendo paga por todos, com ICMS elevado, atrasos de salários que impactam a economia, perda de relevância no cenário nacional e sucateamento da máquina pública. Por mais paradoxal que pareça, para ser forte, o Estado tem que ser menor, gerido de forma responsável e disposto a comprar brigas que só um governador que não disputará a reeleição poderia comprar.