Golfe tem fama de ser um esporte de rico. Mentira. Eu, por exemplo, comecei a jogar – ou a tentar. Foi depois que familiares se mudaram para uma casa vizinha a um campo. Já que estava ali, fui chegando. Um amigo tinha um conjunto de tacos que não usava mais. Peguei emprestado. Comprei os sapatos especiais de segunda mão – menos da metade do preço de um novo. Adquiri a camisa polo mais barata da lojinha. E lá fui eu.
Tem sido meses agradáveis de buracos no chão e de tacos zunindo, sem acertar o alvo. Nas raras vezes em que fui realmente jogar, fiz a alegria dos fabricantes de bolinhas. Um jogador amador americano perde, em média, cinco delas no percurso de 18 buracos. Foi a minha marca, mas em apenas dois. Devo ter atingido, sem querer, um punhado de carpas no lago do buraco 16.
Golfe pode não ser um esporte de rico, mas é difícil – para as carpas e para os humanos. Mas sou encarnado, não desisto – privilégio, infelizmente, não reservado aos peixes. Fim de semana passado, depois do almoço, fui sozinho para o campo. Muita gente estava na praia e fazia um calorão de 32 graus. Eu era o único. Solito. Fiquei corajoso.
Se não me engano, foi no buraco 18 – Comecei o meu treino no 15. À direita do ponto de partida, há uma espécie de pequeno – mas denso – bosque de eucaliptos. Foi lá, no meio dele, que a minha bola foi parar depois de uma tacada de revesgueio. Caminhei pelo impecável gramado assoviando, como se soubesse exatamente o que estava fazendo.
Ferrado, mas sem perder a fleuma.
Entrei no bosque. Levei um tempo para encontrar a bolinha. Ela jazia aninhada entre folhas secas, tal qual um ovo de quero-quero, cercada de troncos por todos os lados. Pensei alguns segundos. Olhei, olhei e vi uma fresta. Entre os galhos havia uma passagem de uns 45 centímetros através da qual era possível avistar a bandeira que indica a localização do buraco. É por ali. Vou conseguir. É só mirar.
Enquadrei o corpo, repassei mentalmente os 140 detalhes do movimento – braço esquerdo esticado, posição dos pés, inclinação do tronco, giro do quadril, ombros, olhos na bola... minha confiança ia crescendo. Entoei meu mantra mental: “Vou sair do brete, vou sair do brete, vou sair do brete”.
Iniciei a tacada buscando a aceleração na hora certa. Quando a cabeça do taco bateu na bolinha, o som me encheu de euforia. Em cheio. No ponto mais doce. Só que faltou pontaria.
A bolinha bateu na árvore da direita e iniciou um frenético ricochetear randômico entre os troncos. Consegui me abaixar em tempo de não ser atingido, como se estivesse em meio a um tiroteio. Passado o susto, caí na gargalhada. De pavor. Respirei fundo, busquei novamente o equilíbrio e optei por uma tacada mais curta, para o lado. Foram três até sair do bosque.
Minhas duas lições daquele dia:
1. Tente. Azar. De preferência em um domingo de verão à tarde, na temporada de praia, com sol e temperatura acima dos 30. Só lembre de proteger instantaneamente a cabeça com uma mão e os lugares óbvios com a outra, cuidando para não se autoimolar com o taco.
2. Em vez de peixes, deveriam colocar apenas tartarugas nesses lagos que embelezam os campos de golfe mundo afora.