Quando o Brasil ganhou o Copa de 2002, Luiz Felipe Scolari desfilou em carro de Bombeiros por Porto Alegre. Apesar dos sofrimentos impostos por ele em tantos Gre-Nais, eu era seu fã. Admirava a forma como geria seus grupos e vi, no Japão/Coreia, um time mais preocupado em jogar na bola do que em se impor fisicamente sobre o adversários.
Admirava tanto o Felipão que peguei meu carro, estacionei em uma travessa da Farrapos e me juntei à multidão que aplaudia o retorno do gaúcho campeão do Mundo o do seu preparado físico, o cariocucho Paulo Paixão. Chorei de emoção quando eles passaram, acenando.
Doze anos depois, tive a oportunidade de cobrir a Seleção na Copa jogada no Brasil. Vi Felipão mais de perto e senti, em pouco tempo, a minha admiração sumir. No lugar daquele profissional focado, se revelava na minha frente um homem fechado, mau humorado e ineficiente na gestão dos aspectos que envolvem a tarefa de liderar uma das seleções mais populares e vitoriosas do planeta.
Felipão vivia de cara fechada, mesmo durante os treinos. E treinava pouco, de um jeito contraído. Tratava mal os jornalistas. Parecia desconfortável. Eu dizia isso a todos, na época, mesmo antes do 7 a 1, quando a arrogante escalação de um time que havia treinado apenas cinco minutos terminou em tragédia nacional.
Fico feliz que Felipão tenha voltado. Pelo que leio e ouço, ele se fez outra vez amigo dos jogadores, sem perder a autoridade. Nunca foi de mostrar os dentes em entrevistas, mas parece haver reaprendido que também é pago para ouvir e responder a perguntas burras e tensas.
Eu disse uma vez a um treinador amigo que o salário dele se dividia em quatro. Um pedaço era pra treinar, outro para aguentar os dirigentes, outro para aguentar os jornalistas e o último, mas não menos importante, era para ser chamado de burro quando as coisas davam errado.
Felipão será campeão brasileiro nesse ano. O seu plantel é diferenciado e o Palmeiras nada em dinheiro. Mas isso não invalida o trabalho de um grande profissional e a sua capacidade de aprender. Acabou o tempo do futebol dedo no olho e pontapé pelas costas. Seriedade e truculência são coisas diferentes.
Bem vindo de volta, Felipão. O teu sucesso é um bom sintoma para o futebol.