Resolvi nem contar para ela, porque tudo foi tão bom.
Na segunda-feira, deslizei no contrafluxo, às sete da noite, para jantar com as minhas filhas no Chalé da Praça XV. Gosto de lá, pelo cheiro de História, pelo Mercado ali na frente, pela mistura de gente e de cores. A essa hora já dá para estacionar no largo, onde seis policiais a cavalo me deixaram mais tranquilo do já estava. A comida boa, o atendimento excelente, a música ao vivo espetacular, a conta com o preço justo.
Na saída, uma caminhonete da BM passava pelo portão. Empolgado com a civilidade do momento, convidei minhas filhas para passear no Mercado, com suas portas quase todas já abaixadas, mas ainda movimentado. Entramos em uma padaria, olhamos em volta e vimos, ali na calçada, os vendedores de frutas. Bergamota. Poncã, um pouco mais cara do que a do outro tipo. Descascar uma poncã é tudo de bom. A pequena explosão ao perfurar a casca, o arranhado suave a cada naco retirado. Oito por cinco reais. Fim de feira, o moço fez "tá bom, 10 por cinco".
"Pai, nem parece que estamos em Porto Alegre", disse a minha filha mais moça. " Isto é que é Porto Alegre", respondi, feliz, muito feliz pelo momento mágico e sem incidentes.
Voltamos pra casa rindo e conversando no carro. Fui logo acomodar as bergamotas na fruteira de cerâmica. Sete eram poncãs. As outras três, bem menores e de outro tipo. Um leve decepção se abateu sobre mim.
Mas nem contei para a minha filha. Estava escuro, o vendedor deve ter se enganado. Somos todos humanos, afinal.