Nos 13 anos de PT, poucas instituições se mantiveram imunes à influência ideológica da esquerda. Uma delas foi o Exército brasileiro. Esse é um dos motivos pelo qual não viramos Bolívia ou Venezuela. Não foi por falta de vontade de setor do partido dominante, mas sim o freio institucional das Forças Armadas, que mantiveram uma relação respeitosa e pautada pela Constituição com o poder.
Foram os anos do refluxo de 64. Diferentemente de países como Argentina e Chile, que regurgitaram as dores do enfrentamento, o Brasil optou por não mexer nas feridas. A rebeldia ficou com a cultura, que produziu filmes, livro e peças sobre o período militar. As Forças Armadas preferiram o silêncio, com raras exceções. Se fosse um campo de batalha, a manobra seria de fácil definição: recuar, reagrupar e recuperar fôlego.
Com isso, um dos aspectos decisivos para a saúde da instituição, pela sua natureza militar, ficou preservada: a coesão. Ingenuidade pensar que as Forças Armadas são monolíticas. Há diferenças de pensamento, mas quando o assunto é hierarquia, são remotíssimas as possibilidades de desvio. Até agora, tem sido exemplar a postura dos militares diante da crise. Mas as tentações se apresentam em forma de apelos - tanto dos caminhoneiros, que incluíram os quartéis em seus trajetos, quanto do presidente da República, que precisa de força para não cair. O fenômeno é de simples compreensão.
O Supremo Tribunal Federal, ao expor seus egos em choque, desqualificou-se publicamente. O Congresso esfarelado já representa quase nada e ninguém, além dos seus próprios interesses. O governo moribundo se contorce em busca do pouco oxigênio disponível. No meio da sensação de afogamento, o país percebe que existe ali alguma coisa que flutua como uma boia, que inspira segurança e solidez. Mas cuidado. As Forças Armadas não são uma boia. Já afundaram antes, com peso demais. As Forças Armadas são as Forças Armadas. E tomara que nunca mais caiam na tentação de ser o que não são.