
O Último Duelo (The Last Duel, 2021), que acabou de aparecer no menu do Amazon Prime Video, é o último grande filme do diretor Ridley Scott, embora não tenha concorrido a nenhum prêmio importante. Pelo contrário: chegou a receber uma indicação ao Framboesa de Ouro, para Ben Affleck, na categoria de pior ator coadjuvante.
Tampouco fez sucesso de público. Aliás, foi um tremendo fracasso comercial (o único atenuante é que foi lançado quando o mundo ainda sofria com a pandemia). Orçado em US$ 100 milhões, arrecadou somente US$ 30,5 milhões nas bilheterias. O número fica mais pálido ainda na comparação com os três filmes seguintes do cineasta britânico de 87 anos: Casa Gucci (2021) fez US$ 153,2 milhões, Napoleão (2023), US$ 221,3 milhões, e Gladiador II (2024), US$ 462,1 milhões.
No cotejo com esses três títulos, porém, O Último Duelo parece o melhor lapidado. Scott demonstra controle das ferramentas cinematográficas, acertando na direção do elenco, na condução da trama, que tem mais foco e ritmo, e nas cenas de ação. Se não tem a grandiosidade da reconstituição das batalhas de Austerlitz e Waterloo na cinebiografia de Napoleão Bonaparte, por outro lado oferece um combate vigoroso e extenuante que impacta bem mais do que os confrontos nas arenas vistos na continuação de Gladiador (2000).
Escrito por Ben Affleck, Matt Damon e Nicole Holofcener, o roteiro do filme se baseia no livro de Eric Jager, crítico literário especializado em literatura medieval, sobre a história real do último julgamento por combate realizado na França.
A exemplo do que fez o mestre japonês Akira Kurosawa no clássico Rashomon (1950), Ridley Scott mostra três pontos de vista dos mesmos fatos. São seus aliados fundamentais o diretor de fotografia Dariusz Wolski, indicado ao Oscar por Retratos do Mundo (2020), e a editora Claire Simpson, oscarizada por Platoon (1986) e concorrente por O Jardineiro Fiel (2005).

A personagem central é Marguerite de Thibouville, em ótima atuação de Jodie Comer, ganhadora do Emmy de melhor atriz em série dramática, em 2019 por Killing Eve: Dupla Obsessão. A nobre contrariou os costumes patriarcais da sociedade medieval e pôs-se em risco ao reivindicar justiça após ser vítima de estupro.
O autor da violência sexual é Jaques Le Gris (Adam Driver), outrora amigo e agora rival do marido de Marguerite, Jean de Carrouges (Matt Damon). Le Gris nega o crime e é desafiado por Carrouges para um duelo mortal, o último a ser autorizado na França da Idade Média. O conde Pierre d'Alençon (Ben Affleck), que apadrinhou Le Gris, tenta demover Carrouges da ideia, mas o personagem de Damon apela diretamente ao rei Carlos VI (Alex Lawther), conhecido como O Louco.
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