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Bridget Jones: Louca pelo Garoto (Bridget Jones: Mad About the Boy, 2025), que estreia nesta quinta-feira (13) nos cinemas, é um filme bagunçado como a vida de sua protagonista e interminável como a própria personagem interpretada por Renée Zellweger.
A escritora britânica Helen Fielding criou Bridget Jones em 1995, em uma coluna do jornal The Independent, para fazer uma sátira sobre a obsessão feminina com romance e casamento, cheia de referências ao clássico literário Orgulho e Preconceito (1813), de Jane Austen. Os livros com as desventuras do triângulo amoroso formado pela personagem com o charmoso mas canalha Daniel Cleaver (papel de Hugh Grant nos filmes) e com o certinho mas ranzinza Mark Darcy (vivido por Colin Firth) se tornaram um sucesso de vendas, o que se repetiu no cinema — considerando que o gênero comédia romântica nunca foi de alcançar bilheterias bilionárias. O Diário de Bridget Jones (2001), de Sharon Maguire, arrecadou US$ 281,9 milhões — e concorreu ao Oscar na categoria de melhor atriz —; Bridget Jones: No Limite da Razão (2004), de Beeban Kidron, faturou US$ 262,5 milhões; e O Bebê de Bridget Jones (2016), novamente dirigido por Maguire, somou US$ 211,9 milhões.
O quarto filme adapta o livro homônimo e tem o roteiro assinado pela própria Fielding com Abi Morgan e Dan Mazer. A direção é de Michael Morris, realizador de A Sorte Grande (2022), o título brasileiro de To Leslie, drama que rendeu a Andrea Riseborough uma indicação Oscar de melhor atriz por encarnar uma mãe solteira que, após ter gastado o prêmio de uma loteria em álcool e outras drogas, está na miséria e agora tenta se reconectar com o filho de 20 anos. Morris também tem no currículo episódios das séries Bloodline, 13 Reasons Why e Better Call Saul.
Dado o seu currículo, talvez Morris não fosse o diretor mais adequado para uma comédia romântica. Mas talvez Bridget Jones: Louca pelo Garoto não seja mesmo uma comédia romântica.
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Quem for ao cinema esperando ver trapalhadas constrangedoras da protagonista ou cenas engraçadas como aquela da briga entre os personagens de Hugh Grant e Colin Firth vai levar um choque logo de cara. Bridget agora é uma cinquentona e tem dois filhos — Billy (Casper Knopf) e a caçula, Mabel (Mila Jankovic). Também é uma viúva: Mark Darcy morreu quatro anos atrás, vítima de uma explosão terrorista durante uma missão humanitária no Sudão.
Um evento trágico como esse inevitavelmente contamina uma suposta comédia romântica. Não à toa, na narração em off Renée Zellweger adota um tom mais solene — quase entorpecido. A morte do marido de Bridget e do pai das crianças é um peso que o filme não consegue contornar — e nem quer. Mark Darcy é, literalmente, um fantasma, surgindo aqui e ali para lembrar a protagonista sobre o que eram o amor e a felicidade.
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Mas Bridget Jones precisa seguir em frente, ou pelo menos é isso o que desejam suas amigas e sua médica (Emma Thompson). Volta a trabalhar como produtora de TV e retoma a luta no campo amoroso, onde sua condição, segundo uma coadjuvante, é um atrativo: "Ser viúva é melhor do que ser divorciada. É tão romântico, tão original".
Como prenuncia o título da canção de David Bowie que mãe e filhos dublam nos créditos de abertura, Modern Love (1983), Bridget parte em busca de um romance moderno, para evitar a "sinéquia vulvar" (vá ao cinema ou ao Google para saber do que se trata). Portanto, cria um perfil no Tinder e acaba se envolvendo com um rapaz bem mais jovem, a exemplo do que acontece com as personagens principais de vários filmes recentes, como Amores Solitários (2024), Babygirl (2024), Uma Ideia de Você (2024) e Tudo em Família (2024). Trata-se de um biólogo especialista em lixo, Roxster, 29 anos, intepretado por Leo Woodall, coadjuvante na segunda temporada de The White Lotus (2022) e um dos protagonistas da minissérie Um Dia (2024).
Parece que Louca pelo Garoto será uma comédia romântica sobre as delícias, os desafios e os dissabores de uma relação entre uma mulher mais velha e um homem mais jovem. A impressão é reforçada pelas constantes manifestações dos amigos cacarejantes de Bridget, em diálogos que, ao menos na sessão de imprensa, não provocaram as risadas que deveriam. Nem mesmo as tiradas de humor ácido e cínico de Daniel Cleaver surtiram o efeito dos filmes anteriores.
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Pode ser que a maioria de nós já estejamos cansados desse tipo que Hugh Grant se especializou em encarnar. Mas também é possível que estivéssemos confusos diante de um filme que, gradativamente, em um processo que acaba alongando demais a trama, substitui a comicidade e a leveza esperadas por uma melancolia que chega a doer. Bridget Jones: Louca pelo Garoto não é uma comédia romântica, embora tenha piadas e mais de um romance, mas um drama sobre luto.
Não só de Bridget, não só de quem perdeu para sempre seu amado companheiro ou sua amada companheira e que se vê embretado na dúvida e no dilema, sem saber se pode se envolver com outro alguém e sem saber como acomodar uma saudade implacável; ainda que com menos tempo e sensibilidade do que o desejado, o filme também olha para a dor do filho mais velho de Bridget e Mark. Na cena mais tocante, no momento mais reverberante, Billy conversa com seu professor de Ciências, o Sr. Walliker (Chiwetel Ejiofor), sobre a falta que sente do pai. E, como um menino que tem toda uma vida pela frente, ele faz uma pergunta que traduz a angústia de quem experimentou tão pouco o amor paterno ou materno:
— E se eu esquecer dele?
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