A Academia de Hollywood confirmou as expectativas ao anunciar, nesta quinta-feira (23), a presença de Ainda Estou Aqui como um dos cinco indicados ao Oscar de melhor filme internacional. Depois de 26 anos, o Brasil volta a disputar essa categoria. Seus rivais serão A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca), Emilia Pérez (França) e Flow (Letônia) — leia mais sobre cada um logo abaixo. A 97ª cerimônia de premiação está marcada para 2 de março.
A indicação coroa um sucesso estrondoso de público (Ainda Estou Aqui já ultrapassou a marca dos 3,5 milhões de espectadores no Brasil) e de crítica — inclusive no Exterior, onde o título dirigido por Walter Salles ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz em drama, com Fernanda Torres, e está concorrendo ao troféu de melhor filme em língua não inglesa no Critics Choice, concedido pela imprensa de rádio, TV e internet dos EUA e do Canadá, e no Bafta, da Academia Britânica.
A trama tem início no Rio de Janeiro da virada de 1970 para 1971. Após o desaparecimento do marido, o engenheiro civil e deputado federal cassado Rubens Paiva (papel de Selton Mello), durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), Eunice (Fernanda Torres) é obrigada a se reinventar e traçar um novo destino para si e seus cinco filhos.
Além das qualidades artísticas e do alerta sobre o impacto devastador das ditaduras e da violência de Estado sobre a sociedade, Ainda Estou Aqui tinha como trunfo a conexão com o último filme nacional a disputar o Oscar internacional: Central do Brasil (1998), também vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, do Globo de Ouro de longa estrangeiro e do Bafta de produção em língua não inglesa. O diretor é o mesmo, Walter Salles, o elenco inclui uma participação especial de Fernanda Montenegro, que competiu na categoria de melhor atriz em 1999, e a protagonista é a filha dela, Fernanda Torres — que, a exemplo da mãe, também recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz.
Há uma outra coincidência: o tema dos anos de chumbo esteve presente na penúltima indicação brasileira, com O que É Isso, Companheiro?, em 1998, e no último título que havia chegado na semifinal, O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, em 2008.
Confira, a seguir, os quatro filmes que são rivais do Brasil na premiação de Hollywood:
1) Emilia Pérez (França)
De Jacques Audiard. Um dos mais renomados cineastas franceses (são dele O Profeta e Ferrugem e Osso) assina este musical sobre uma advogada (Zoe Saldana) que é contratada por um temido líder do narcotráfico mexicano (a atriz trans Karla Sofía Gascón) para forjar sua morte e ajudá-lo a ressurgir como a mulher que ele sempre sonhou ser.
Pelo desempenho nas premiações, é o grande rival de Ainda Estou Aqui. Para começo de conversa, recebeu um total de 13 indicações ao Oscar, incluindo as categorias de melhor filme, direção e atriz (Karla Sofía Gascón). No Festival de Cannes, mereceu o Prêmio do Júri e um troféu para o elenco. No Globo de Ouro, ganhou nas categorias de melhor comédia ou musical, longa em língua não inglesa, atriz coadjuvante (Saldana) e canção original (El Mal). Tem 11 indicações ao Bafta, da Academia Britânica, três ao SAG Awards, do Sindicato dos Atores dos EUA. Mas Emilia Pérez também é alvo de duras críticas. Se a campanha negativa encorpar, pode influenciar a votação dos membros da Academia de Hollywood, beneficiando a cinebiografia brasileira.
A estreia no Brasil está prevista para 6 de fevereiro.
2) Flow (Letônia)
De Gints Zilbalodis. Esta animação sem diálogos — ou seja, sem a "barreira" das legendas para os estadunidenses — gira em torno de um gato que se junta a uma capivara, um lêmure, um pássaro e um cachorro depois que uma enchente destrói sua casa. Também está indicado ao Oscar de melhor animação, categoria em que venceu no Globo de Ouro. Tem estreia no Brasil marcada para o dia 30 de janeiro.
3) A Garota da Agulha (Dinamarca)
De Magnus von Horn. O filme se passa em 1919, na Copenhague pós-Primeira Guerra Mundial, onde uma jovem trabalhadora (Vic Carmen Sonne) fica desempregada e grávida. Então, ela conhece Dagmar (Trine Dyrholm, de Rainha de Copas), que dirige uma agência de adoção clandestina. Tem lançamento no Brasil marcado para esta sexta-feira (24), na plataforma de streaming MUBI.
4) A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha)
De Mohammad Rasoulof. Apesar de ser escrito e dirigido por um iraniano, ambientado no Irã e falado em persa, representa a Alemanha no Oscar. É que a Alemanha abrigou o diretor depois de sua fuga do Irã. O cineasta é um notório opositor do regime teocrático de seu país. Neste filmaço, um aspirante a juiz luta contra a paranoia em meio à agitação política em Teerã, no contexto das mortes de jovens mulheres por não usarem (ou não usarem da forma considerada correta) o hijab, o véu que cobre a cabeça e o pescoço das muçulmanas. Levou o Prêmio Especial do Júri em Cannes e foi apontado como o melhor filme internacional nos EUA pela National Board of Review. Entre os críticos de Los Angeles, Rasoulof foi eleito o melhor diretor. A Semente do Fruto Sagrado segue em cartaz na Sala Eduardo Hirtz, em Porto Alegre.
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