Os vencedores das 23 categorias do Oscar serão divulgados neste domingo (10), em cerimônia que começa às 20h. Na categoria de melhor filme internacional, concorrem produções de fora dos Estados Unidos, país da Academia de Hollywood, com diálogos predominantes em uma língua diferente do inglês.
Os países selecionam internamente seus representantes, que são submetidos à premiação. Como na maioria das outras categorias, cinco indicados são selecionados e os membros da academia escolhem o vencedor. A definição é simples: quem tiver mais votos, vence.
Nessa edição do Oscar, o favorito seria Anatomia de Uma Queda, filme francês que recebeu cinco indicações, incluindo a de melhor filme. O comitê da França, no entanto, elegeu O Sabor da Vida, por 4 a 3 na votação interna, que não figura entre os indicados finais.
Abaixo estão críticas escritas por Ticiano Osório, colunista de cinema de GZH, dos cinco filmes que concorrem ao Oscar na categoria de melhor filme internacional.
Se Ticiano Osório fosse um dos 9.797 membros da Academia que escolhem os vencedores do Oscar, Zona de Interesse não só venceria a categoria internacional, como seria o escolhido do colunista para levar a estatueta de melhor filme. O longa-metragem britânco, predominantemente em alemão, dificilmente desbancará Oppenheimer na categoria geral, mas tem boas chances de dar ao Reino Unido o seu primeiro Oscar.
O filme, ao dissociar imagem e som no retrato do cotidiano familiar do nazista comandante de Auschwitz, é o mais perturbador dos indicados e também o mais ressonante, por refletir sobre a banalidade do mal e nossa capacidade de sermos indiferentes à dor alheia.
Zona de Interesse mostra que os monstros nazistas eram, na verdade, pessoas como quaisquer outras, pais de família que vão à igreja aos domingos ou que leem histórias para seus filhos dormirem à noite. Quando a violência, o racismo (ou o preconceito) e a ilusão são uma política de Estado, cidadãos podem, por incapacidade de formar juízo crítico ou por vontade própria, desligar seus preceitos morais e incorporar a crueldade à rotina. Podem fechar os olhos e os ouvidos ao horror. Leia a crítica completa.
Dirigido pelo alemão Wim Wenders e representante do Japão, Dias Perfeitos é um filme hipnotizante. Ticiano destaca a atuação de Koji Yakusho como o sessentão Hirayama, personagem quase calado.
Em uma cena de dois minutos, o diretor de fotografia Franz Lustig fixa a câmera no rosto de Yakusho, que, sem dizer uma só palavra, transmite uma gama de emoções, evocando lembranças, desejos e, quem sabe, arrependimentos.
Dias Perfeitos propõe uma imersão na cultura japonesa com seu senso de ordem e harmonia, e no cotidiano de Tóquio. Leia a crítica completa.
Ainda que possa ficar escondido diante das indicações e popularidade dos concorrentes, A Sala dos Professores, representante da Alemanha, merece tanto ou mais visibilidade. É um filme que deveria ser tema de aula — e de casa também.
A história trata de um colégio que vem sendo o cenário para uma série de furtos e o principal suspeito é um aluno da professora novata Carla (Leonie Benesch), Ali, filho de imigrantes. Mas ela sabe, por experiência própria, que pelo menos duas pessoas adultas estão surrupiando dinheiro de carteiras ou daqueles porquinhos em que depositamos moedas. A protagonista resolve investigar a situação. Suas intenções parecem certas, mas a cada passo afunda em uma espécie de areia movediça do campo da ética. Leia a crítica completa.
Fenômeno de audiência na Netflix, o longa representa a Espanha na categoria internacional. Trata-se do terceiro filme de ficção sobre uma das mais dramáticas e famosas histórias de sobrevivência: a dos passageiros de um avião uruguaio que caiu na Cordilheira dos Andes durante um voo para o Chile, em 13 de outubro de 1972.
Para se manterem vivos, eles precisaram se alimentar dos mortos. O longa-metragem dirigido por J.A. Bayona também disputou o Globo de Ouro, o Critics Choice e o Bafta, da Academia Britânica. Leia a crítica completa.
Representante da Itália, o país com mais estatuetas na categoria internacional com 14 títulos, é o pior filme da lista. O longa-metragem é dirigido por Matteo Garrone, que recebeu o Leão de Prata de melhor direção no Festival de Veneza, onde ganhou 13 minutos de aplauso.
Carismático, o protagonista Seydou Sarr tem uma atuação realmente notável, conseguindo equilibrar medo, esperança, dor e resiliência. Mas as escolhas estéticas de Garrone são questionáveis. E as demoradas palmas em Veneza podem ser encaradas como uma expressão da culpa europeia por uma tragédia africana — ou pior: podem ser um reconhecimento ao papel de "salvador branco" exercido pelo diretor italiano ao retratar a odisseia de dois primos do Senegal que querem buscar uma vida melhor atravessando o Mar Mediterrâneo.
Trata-se de uma jornada perigosíssima: segundo dados de 2023 da Organização Internacional para as Migrações, desde 2014 mais de 28 mil pessoas já desapareceram ou morreram nas águas que separam os dois continentes. Leia a crítica completa.
*Produção: Maria Clara Centeno