
Por falta de coisa mais interessante para fazer, políticos que vivem da lacração nas redes sociais gastaram a segunda-feira para repercutir a informação (ou especulação) de um site estrangeiro sobre a suposta criação de uma camisa vermelha para a seleção brasileira de futebol, que seria utilizada na Copa do Mundo de 2026. Prontamente, deputados e vereadores de direita associaram a cor ao comunismo, relembrando o slogan "nossa bandeira jamais será vermelha", e passaram a criticar o suposto uniforme — que ainda não foi oficializado.
Mas o deputado gaúcho Maurício Marcon (Podemos) foi além: nesta terça-feira (29), protocolou um projeto de lei na Câmara que obriga atletas, seleções e equipes que representam o Brasil a usarem uniformes apenas nas cores da bandeira nacional. O parlamentar ainda quer proibir o governo e os órgãos estatais de patrocinarem as equipes que descumprirem a medida.
Na justificativa do projeto, Marcon — que se diz um defensor da liberdade — explica que a legislação visa a "coesão nacional e manutenção do justo sentimento de pertencimento". Sem citar que a CBF é uma entidade privada, diz ainda que a adoção da coloração vermelha "extrapola a seara desportiva":
"Existem questões subjacentes que aparentemente permeiam a adoção da coloração vermelha neste caso específico, questões estas que extrapolam a seara desportiva. Não adentrando a qualquer mérito, deve ficar claro que o esporte deve se bastar em si mesmo, sem influências potencialmente nefastas", diz o texto.
Ao tentar fazer a associação com o comunismo ou ao PT, o deputado esquece a relação da cor com a origem do nome do país. O corante obtido pelos portugueses com a madeira encontrada após o descobrimento era descrito como "vermelho como a brasa", daí vem o nome pau-brasil e, consequentemente, Brasil. Também ignora outras seleções ao redor do mundo que vestem cores desassociadas da bandeira, como Holanda, Itália e Japão.
É, sim, estranho que a seleção brasileira use uma camisa vermelha ao invés das tradicionais amarelinha ou azul, mesmo que o novo uniforme ainda não tenha sido anunciado oficialmente. Em 2016, uma edição comemorativa com mangas e detalhes em vermelho escuro foi lançada, mas nunca foi utilizada em campo.
Mas nada disso justifica essa mania dos deputados de legislarem sobre tudo, desperdiçando tempo e dinheiro (público) da Câmara para tramitar projetos desnecessários e que só servem para causar nas redes sociais. Será que era isso o eleitor esperava quando confiou seu voto em um candidato?
Além da preocupação com a cor do uniforme da seleção, Marcon também assina projetos para obrigar o registro de sexo biológico nas certidões de nascimento e casamento e para vedar a censura prévia em ambientes virtuais e na imprensa — que já é proibida pela Constituição.
Na pauta desta semana, a Câmara vai se debruçar sobre propostas ligadas à educação, um deles que prevê ampliar as escolas de Ensino Médio de tempo integral. Este, sim, é um tema relevante do Brasil que deveria preocupar os deputados.