
Tente explicar em português, com um tradutor ao lado, o sistema político-partidário brasileiro a um japonês ou a um alemão, neste momento de fusões, incorporações e formação de federações. Ele certamente vai achar que existe algum erro de tradução.
É difícil explicar até para os brasileiros pouco familiarizados com o mundo paralelo da política esses arranjos cujo objetivo é atender aos interesses de quem está no poder. Casamentos por interesse, em alguns casos para garantir a sobrevivência.
O casamento do PP e do União Brasil, que formaram a União Progressista, trata-se de uma superfederação que terá as maiores bancadas na Câmara e no Senado e, com dinheiro, capilaridade e tempo de TV, tende a eleger o maior número de deputados. Com que objetivo? Ganhar mais poder de barganha na ocupação de cargos no Executivo, aumentar o dinheiro dos fundos partidários e eleitorais, ter mais recursos de emendas para distribuir e assim se retroalimentar.
Com a federação, deputados do União Brasil que não têm o mesmo poder dos progressistas para conquistar votos avaliam se é melhor ficar ou sair. Em março de 2026 abre-se a janela para que quem quiser trocar de partido sem perder o mandato, baseado mais na matemática do que na política, porque os partidos estão cada vez mais moldáveis. A janela é uma invenção criada pelos parlamentares para escapar da punição por infidelidade partidária.
A dificuldade de explicar essa promiscuidade começa pela própria existência da federação. Ela também serve para salvar da cláusula de barreira partidos que fracassaram nas urnas. Ora, se o eleitor não quer saber desses partidos que representam parcela ínfima da população, por que salvá-los da extinção, que poderia tornar o ambiente político menos poluído?
Como explicar ao japonês e ao alemão que no anúncio do casamento PP-União o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, discursou como pré-candidato à Presidência, se os dois partidos estão no governo Lula, ocupando cargos importantes? Além disso, têm entre seus líderes os que preferem Jair Bolsonaro (PL, e no momento inelegível) ou Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como candidato a presidente?
Fechando o foco no Rio Grande do Sul, também não é fácil explicar para um japonês, inglês ou alemão que PP e União Brasil participam do governo de Eduardo Leite (ainda no PSDB), mas poderão se aliar ao PL na eleição de 2026, em vez de apoiar o candidato da situação, o vice-governador Gabriel Souza (MDB). A deputada Silvana Covatti (PP) é cotada tanto para vice de Gabriel quanto de Luciano Zucco (PL).
Se o leitor ainda não estiver entediado com essa sopa de letrinhas e palavras, pode fazer o exercício de explicar a lógica da união entre PSDB e Podemos — essa, sim, uma fusão propriamente dita que vai resultar em um novo partido — e de o governador Eduardo Leite optar pelo PSD.
Leite deseja ser candidato a presidente, mas Kassab, que manda no PSD, acaba de dizer que se Tarcísio for candidato a presidente, a centro-direita se unirá em torno dele. Para ser candidato, Tarcísio quer garantir o apoio de Jair Bolsonaro, o que significa colocar no mesmo palanque políticos que amam o ex-presidente e outros que gostariam de vê-lo pelas costas.