
De todos os setores que apoiaram Donald Trump na eleição de 2024, o agronegócio é o mais assustado com os arroubos do presidente republicano. A imposição de tarifas a produtos da China, do México e do Canadá e o aviso desses países de que haverá retaliação fez soar o alarme entre os agricultores dos Estados Unidos, sobretudo os produtores de soja que exportam para a China.
Nenhum exportador quer perder mercados conquistados por uma medida atabalhoada do governo do seu país — e isso vale para o caso de o Brasil criar cotas de exportação para forçar a redução do preço dos alimentos.
No caso dos Estados Unidos, o temor dos produtores é de que outros países — o Brasil inclusive — ocupem seu espaço no fornecimento de grãos para a China.
A gritaria geral fez com que Trump recuasse temporariamente no tarifaço de produtos importados do Canadá e do México, já que ele estava ignorando a existência de um acordo de livre comércio com esses vizinhos, englobando produtos que ameaçou taxar.
Seria como se Javier Milei resolvesse taxar as importações de produtos brasileiros por questões ideológicas, ignorando o Mercosul, acordo do qual a Argentina ainda faz parte.
A guerra tarifária provocou solavanco nas bolsas mundiais e desvalorização do dólar ante outras moedas, num sinal de que o mercado não levou a sério o discurso de Trump no Congresso, quando se gabou se ter feito mais pelos Estados Unidos em 40 dias de governo do que outros presidentes em vários anos.
O mercado pode ser pró-Trump, mas não é bobo. Por ser pragmático, não se alimenta de discursos políticos. Importam os efeitos práticos. O próprio Elon Musk, o bilionário mãos de tesoura que Trump contratou para reduzir despesas nos Estados Unidos, está perdendo dinheiro com a debandada de clientes na Europa — e pode perder mais se o presidente a quem serve continuar com as hostilidades, humilhando os europeus.
Vá lá que alguns bilhões a mais ou a menos não fazem diferença para Musk, mas o significado simbólico é de repúdio à forma como o presidente trata seus aliados históricos.
O Brasil também está na mira de Trump. Foi citado no discurso no Congresso como um país que pratica “tarifas injustas”, provavelmente em referência ao etanol.
Essa bomba o vice-presidente Geraldo Alckmin está tentando desarmar, na condição de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.